Por que cassar Castro Pinto?
Por Francisco Frassales Cartaxo
A senadora Nilda Gondim criou polêmica desnecessária ao tentar pousar o nome de José Maranhão no Aeroporto, que já é Castro Pinto. Voo turbulento. Antes tivesse procurado saber de quem ela deseja cassar tão justa homenagem. Conhecer melhor o político, gestor público, jornalista, intelectual, tribuno. Essa prosaica atitude, simples precaução, evitaria tão folclórica vergonha. E o próprio filho de Seu Beja lhe agradeceria, penso.
João Pereira de Castro Pinto (1863-1944) nasceu em Mamanguape. Na Faculdade de Direito do Recife foi colega de Epitácio Pessoa, turma de 1886, período de salutar efervescência política, de vibrante debate abolicionista e filosóficos às vésperas da chegada da República. O sábio mestre do direito civil, o cearense Clóvis Bevilaqua, na sua consultada História da Faculdade de Direito do Recife, anota em rodapé: Orador brilhante, erudição notável, figura de destaque.
Antes de ser governador (1912-1915), Castro Pinto foi promotor público e jornalista em alguns estados, além da Paraíba. Aqui foi deputado estadual constituinte, em 1891, ao lado do cajazeirense Joaquim Gonçalves Rolim. Na legislatura 1896-1899, teve como colega o major Higino Sobreira Rolim, meu avô. Depois, nos representou na câmara federal (1907-1908) e no senador (1908-1912), de onde veio governar a Paraíba, escolhido para conciliar os interesses das duas oligarquias rivais, em acordo chancelado pelo gaúcho Rivadávia Correia, ministro da Justiça do presidente Hermes da Fonseca.
No governo, Castro Pinto deixou três grandes marcas.
O apoio efetivo à instrução pública e à cultura, representado pela criação de cursos profissionais (Comércio e Agrimensura), o incentivo ao ensino via concursos para professores, fundação da primeira Biblioteca Pública da Paraíba. No campo das letras, publicou, utilizando a editora do jornal A União, muitos livros de escritores paraibanos. Em paralelo, no campo da segurança pública, não deu sossego ao cangaço e seus coiteiros.
Outra ação original de seu governo: Castro Pinto governou como magistrado. Eleito num momento de conciliação entre os grupos oligárquicos, ele presidiu a eleição de janeiro de 1915 sem a usual interferência do poder, a serviço de facções partidárias. Conduta inusitada na República Velha. Mas sua postura não agradou a todos. Vitorioso, Epitácio Pessoa assumiu o comando absoluto da política paraibana. Magoado com pesadas críticas dos derrotados, passou o governo ao vice, Antônio Pessoa, irmão do chefe supremo e foi pilotar um cartório no Rio de Janeiro. Homem erudito, tribuno dos melhores, foi fundador do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e patrono da Academia Paraibana de Letras.
Bem que dona Nilda poderia livrar a Paraíba dessa vergonha.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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