Para além do nome
Por Mariana Moreira
Imaginemos que, apenas instigados pela motivação pessoal, alimentados por desejos de agrados e mimos, começássemos a mudar nomes de monumentos, equipamentos públicos, ruas e avenidas. Seria o exercício de uma assiduidade estonteante e, verdadeiramente improdutivo, sob todos os aspectos.
Essa questão nos inquieta quando entra em cena o debate em torno da proposta de uma nova designação para o Aeroporto Castro Pinto. As justificativas e argumentos para tal propósito se mostram frágeis e pequenos diante da magnitude que traduz a figura pública de Castro Pinto, numa diversidade de áreas de atuação que, por onde transitou, foi imprimindo marcas e fincando estacas de uma produção administrativa, política, literária, jornalística de robustez e profundidade que atinge os dias atuais com força e clareza. Assim o é que, em Cajazeiras, a Biblioteca Pública Municipal leva o seu nome como reconhecimento por sua inserção no universo das letras e das artes.
A substituição dos nomes que designam lugares se configura, em muitas circunstâncias, numa prática de defesa de interesse e propósitos mesquinhos e alimentados por motivações pessoais ou de pequenos grupos, com a intenção de auferir lucros e dividendos políticos restritos e despidos de quaisquer vestígios de reconhecimento público dos feitos do homenageado na projeção dos lugares e das gentes.
Até mesmo a designação dos lugares com nomes de personagens que, em outros momentos e em outros contextos culturais, conseguiram projeção pública em feitos e bravatas vistos como politicamente nocivos, violentos, preconceituosos, não mudará a história ou apagará as marcas que ficaram lanhadas em memórias e vidas apenas com a troca de homenageados. Mais salutar é a problematização da homenagem e a contextualização do homenageado, sem revanchismos ou fúteis desejos de vingança ou inversão de fatos. Mas trazendo para o palco do debate as múltiplas e diversas conjunções e injunções que se somam e se desprendem na produção de fatos e eventos.
Tirar o nome de Emílio Garrastazu Médici da designação de uma escola não subtrairá da história a sua trajetória de militar político que, defendendo uma ditadura, utiliza do cargo e da função de presidente da República para instigar, estimular, apoiar e promover práticas de tortura, assassinatos de opositores, silenciamento de opiniões, censura de fatos e eventos.
E como nos ensina a história, não basta mudar o nome para apagar as marcas que os homens, em suas múltiplas articulações, vão gravando na pedra da existência social.
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