Padre Rolim não quis ser secretário de educação
No regime monárquico, o catolicismo era religião oficial do Estado. Os vigários recebiam a côngrua, uma espécie de salário para sustento de sacerdotes. Padre Rolim nunca foi pároco. Exerceu o magistério, como reitor do Seminário de Olinda e, por dois anos na década de 1850, foi professor de grego no Ginásio Pernambucano, quando o visconde de Bom Conselho era o presidente da província.
Na Paraíba, Padre Rolim chegou a ser nomeado diretor da Instrução Pública, em 8 de março de 1860, pelo presidente Ambrósio Leitão da Cunha, (Barão de Mamoré), mas não assumiu. Em junho, o presidente Luiz Antônio da Silva Nunes cobra do cajazeirense se aceita ou não o lugar com que foi contemplado. Não se conhece resposta do padre Rolim. Deusdedit Leitão, meticuloso pesquisador de nosso passado, atribui a recusa ao espírito de renúncia do padre-mestre, que preferiu permanecer em Cajazeiras indiferente à importância daquele cargo, equivalente, hoje, na administração estadual, ao de Secretário de Educação.
As duas autoridades que tentaram atrair padre Rolim eram peças fundamentais da engrenagem política de fazer as eleições, sobretudo, na condução do processo eleitoral: qualificação de votantes, escolha de eleitores, falsificação de atas, que levavam à corte os deputados gerais. Leitão da Cunha (1825-1898) foi deputado, senador e ministro do Império. Ocupou o governo das províncias do Pará (sua terra), Pernambuco, Maranhão e Bahia. Já Silva Nunes (1830-1911) foi deputado geral em sua terra (ES), e governador da Bahia. Seu sogro, Manuel Vieira Tosta (Marquês de Muritiba), foi deputado, senador, ministro de Estado e influente chefe do Partido Conservador, um dos cardeais do senado, segundo avaliação de Machado de Assis, em crônica famosa. A passagem de seu genro pelo governo paraibano foi rica em fatos de repercussão partidária.
Deusdedit Leitão fez uma dedução lógica, baseada no notório desapego do padre Rolim a bens materiais e a posições de mando. Agora, que ando mergulhado na história política da Paraíba, arrisco aduzir outro fator: escrúpulo político-partidário. Padre Rolim não se envolvia, diretamente, nas questões políticas, como o seu contemporâneo, vigário de Sousa, padre José Antônio Marques da Silva Guimarães, que foi deputado provincial e chefe do Partido Liberal. Padre Rolim deixou de ocupar um dos cargos mais cobiçados na Paraíba imperial, também, por motivos políticos.
Respaldo esta afirmativa em dois fatos.
Primeiro, os presidentes de província eram meros delegados do poder imperial, preocupados em fazer as eleições. Por isso, a maioria dos presidentes vinha de outros lugares, portanto, livres das amarras locais para usar a máquina pública, em particular, a força policial e judiciária, e as artimanhas eleitorais. A nomeação do padre Rolim e a renovação do convite foram gestos de dois políticos estranhos à Paraíba, porém, muito ligados ao Partido Conservador, que, então, controlava o Conselho de Estado.
Ora, o padre Rolim tinha estreita vinculação ao Partido Liberal, cujo núcleo inicial foi formado aqui por sobrinho e amigo, Vital de Sousa Rolim, quando Cajazeiras era povoado do município de Sousa, e onde foi vereador. É óbvio que a presença de padre Rolim numa administração provincial conservadora, em tempo de eleição, no mínimo, causaria constrangimento político. Portanto, esses motivos pesaram na sua decisão de não assumir o importante cargo de diretor da Instrução Pública.
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