Padre Rolim não desapareceu nas trevas da campa
Por Francisco Frassales Cartaxo
Inácio de Sousa Rolim quase alcançou 100 anos. Nascido em 22 de agosto de 1800, faleceu a 16 de setembro de 1899, um sábado. Seu primeiro biógrafo, padre Heliodoro Pires, (Patrono da ACAL, cadeira 19, ocupada pela professora Nadja Claudino), no livro Padre mestre Inácio Rolim: Um trecho da colonização do Norte brasileiro e o Padre Inácio Rolim, transcreve um texto da lavra de Júlio de Moésia Rolim, do qual cito esta pequena amostra:
Faleceu às 8 horas da noite no importante estabelecimento de educação que fundou e onde sempre viveu, retirado de todas as coisas mundanas, entregue às práticas da caridade cristã, e a uma quase abstinência de alimentação. (…) Foi vitimado por uma astenia cardíaca senil, que dia a dia minava sua preciosa existência. (…) Os seus últimos momentos foram assistidos pelo Padre Joaquim Cirilo de Sá, que naquela fase angustiosa regia esta freguesia, na ausência do Padre Marcelino Vieira da Silva Sobrinho. (…) Exalou o último alento sem fazer um gesto que indicasse a existência de dor. Foi inumado na segunda-feira, 18, cerca de 11 horas do dia, ao lado esquerdo do altar-mor da catedral. (…) Realmente, ele não morreu, não desapareceu nas trevas da campa, gravou-se nas profundezas da memória de um povo.
– Quem foi Moésia Rolim?
Um cajazeirense que nasceu em 24 de outubro de 1873, mas no termo de casamento com Rosa Amélia Andriola, em 1894, aparece como Júlio Vieira de Moésia Sobreira, segundo informa o escritor e genealogista cearense Mozart Soriano Aderaldo no livro Rolins, Cartaxos e Afins. Júlio Moésia foi farmacêutico em Cajazeiras, São José de Piranhas, Bonito de Santa Fé e comerciante em Fortaleza, onde manteve pequeno laboratório, no qual preparava seus famosos produtos Oftalmina de Moésia e Estomagenol. Jornalista, fundou em 1923, o Pátria Jornal, que era impresso em Fortaleza e trazido para Cajazeiras, não por coincidência, quando o trem da Rede Viação Cearense aqui chegou. Moésia Rolim era sobrinho-neto do padre Rolim e sobrinho dos irmãos majores Higino e Epifânio Sobreira Rolim. E também de Hermenegilda, mãe de Ivan Bichara.
Atenção! Não é a ele a quem Graciliano Ramos se refere várias vezes em Memórias do Cárcere, mas a seu filho, Francisco Moésia Rolim. Este nasceu no Amazonas, foi oficial do Exército, ativo jornalista e tribuno que exerceu intensa atividade política, antes e depois da revolução de 1930. Integrou a Aliança Nacional Libertadora e, mais tarde, o Partido Socialista Brasileiro-PSB, nascido da Esquerda Democrática.
Graças a narração de Júlio de Moésia Rolim, preparada a pedido do padre Heliodoro Pires, pode-se conhecer o clima de comoção que tomou conta de Cajazeiras durante três dias, no longínquo 1899. Padre Rolim não desapareceu nas trevas da tampa, gravou-se nas profundezas da memória de um povo.
Mas, hoje, não sabemos o exato local da Matriz onde repousam os restos mortais da maior figura da história da educação sertaneja no século XIX!
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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