Padre Rolim e Revolução de 1817 (2)
Na abertura da 2ª edição do livro do padre Heliodoro Pires, “Padre mestre Inácio Rolim”, Sebastião Moreira Duarte assim resumiu a relação do padre Rolim com os movimentos rebeldes do começo do século XIX:
“Formando-se no seleiro da agitação política onde se gestou uma dolorosa revolução e sendo contemporâneo de tantos movimentos armados no seu Nordeste e pelo Brasil a fora, não há notícia de que tenha tomado parte ou dado uma palavra sequer a favor ou contra qualquer dessas lutas, a favor ou contra qualquer facção ou partido político”.
O “seleiro de agitação” era o Seminário de Olinda, onde Inácio estudou cerca de três anos até 1825, e de onde, é pertinente lembrar, saiu o subdiácono José Martiniano de Alencar, no início de 1817, com a missão de conquistar a adesão do Ceará à causa da Revolução. Junte-se a isso, a amizade de Bárbara de Alencar (mãe de Martiniano) com os pais de Inácio Rolim, como vimos em crônica anterior.
Por que Inácio não entrou no embalo revolucionário?
Salta à vista a idade. Inácio Rolim tinha apenas 16 anos. E quando se fixou no Crato, Martiniano de Alencar já tinha voltado da prisão na Bahia. Pode-se especular então: Inácio poderia ter sido contagiado pelo clima de rebeldia dominante em Pernambuco, antes e depois do 7 de setembro de 1822. Na Confederação do Equador, por exemplo. Mas isso não ocorreu. Nem como aluno nem como professor do Seminário de Olinda. O silêncio foi uma constante.
Que razões levariam Inácio ao silêncio?
Difícil saber. É possível que a ligação de Vital Rolim e Mãe Aninha com Bárbara de Alencar tenha provocado um efeito contrário no espírito e na disposição do jovem Inácio. Avesso ao engajamento político. Como assim? Pode-se admitir duas razões. Primeira, Inácio Rolim tinha uma predisposição para rejeitar lutas daquele tipo, mercê de sua formação conservadora, forjada no ambiente familiar, mais ajustada a seus ideais e aos anseios de sua devotada mãe. Mãe que escolheu o local e construiu a capela para o filho padre.
A outra razão, estaria na possível repercussão emocional no imaturo Inácio das consequências dramáticas da ação revolucionária dos Alencar. Ora, a saga de rebeldia dos Alencar foi trágica, a começar pelas prisões de Bárbara, filhos, parentes e amigos. E mais, quando Inácio ainda estudava em Olinda, em 1825, padre Martiniano foi preso de novo e levado para a Corte no Rio. Em plena viagem ele escreveu a famosa “Súplica” ao imperador Pedro I, na qual expõe a versão da sua participação nos acontecimentos de 1817 e 1824. Ao se referir às disputas políticas no Cariri, Alencar chama os inimigos de “canalha desenfreada e facinorosa”, e resume o caos vivido pela família, realçando o “triste espetáculo da miséria, desemparo e fome a que se acha reduzida uma numerosa família, composta de uma mãe sexagenária e de mais de vinte indivíduos entre viúvas, donzelas e tenras criancinhas, vítimas da orfandade em que deixou a morte de um irmão, de um tio, de um primo e de um sobrinho, consumidos na revolução”.
Mesmo sem comprovação documental ou amparo na tradição oral, é legítimo apontar essas causas do silêncio do padre Rolim diante dos movimentos libertários daquela época.
E Cajazeiras como entrou na história?
Não entrou. Em 1817, Cajazeiras não passava de uma fazenda. A casa de Vital de Sousa Rolim tinha sido construída há poucos anos. A capela e o colégio ainda não existiam. A povoação virou “distrito de paz da comarca de Sousa” em 1843, e só foi elevada à condição de vila, sede do município, em 1863.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário