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Francisco Cartaxo

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Padre Rolim e a Revolução de 1817

07/05/2017 às 11h03

Há dois séculos houve uma tentativa de emancipar o Brasil e torná-lo uma república. Derrubou-se um governante em Pernambuco, instalou-se novo governo, espalhando-se por outros estados. O único movimento que afrontou o reino português. Durou pouco, menos de três meses. Nessa época, Inácio de Sousa Rolim tinha16 anos. Mesmo assim, vez por outra, surgem dúvidas acerca da postura do padre-mestre em face da Revolução de 1817, na qual se envolveram muitos religiosos, entre eles Frei Caneca. Muito conhecido porque mais tarde, por figurar entre os cabeças da Confederação do Equador, foi condenado à forca, mas terminou fuzilado porque o carrasco se recusou a subir no patíbulo. A inspiração ideológica e política do movimento libertário de 1817 vinha da Europa e dos Estados Unidos e se infiltrava entre os letrados brasileiros através, sobretudo, do Seminário de Olinda, um centro de efervescência intelectual no Brasil de dom João VI, o medroso rei de Portugal que fugiu da fúria guerreira de Napoleão.

Inácio Rolim estudou em Olinda.

Há outras razões mais próximas a despertar o interesse na conduta de padre Rolim. Dia desses, um jovem professor de História me relembrou a ligação da família Rolim com Bárbara de Alencar, mãe de importantes revolucionários de 1817, aliás, ela mesma tida como rebelde. Com base na tradição oral, Deusdedit Leitão informa que Bárbara mantinha um bom relacionamento com Ana Francisca de Albuquerque (Mãe Aninha), visitando-a frequentemente quando vinha à sua propriedade localizada perto de Cajazeiras. A fazenda seria no Cipó, onde ela e o padre Miguel Carlos da Silva Saldanha teriam sido presos. A fonte de Deusdedit é Cristiano Cartaxo que, provavelmente, reproduzia conversas ouvidas de seu pai, Higino Rolim que, por sua vez, as teria escutado do padre Rolim, seu tio. Aquela ligação familiar é confirmada, também, pelo coronel João Bezerra de Mello, em carta de cem anos atrás ao padre Heliodoro Pires: “Bárbara de Alencar vinha muitas vezes do Crato visitar Vital Rolim”. E acrescenta que o “vigário do Crato, padre Saldanha, era muito amigo de Vital e dava seus passeios até Cajazeiras”.

Vital Rolim e Mãe Aninha eram os pais de Inácio, que, segundo as mesmas fontes, teria sido levado por Bárbara de Alencar para o Crato a fim de estudar. Verdade ou não, o fato indubitável é que Inácio esteve no Crato “quatro para cinco anos estudando gramática latina”, conforme constatação do Juiz Comissário do processo canônico de ordenação sacerdotal do padre Rolim.

Quem era o Juiz Comissário?

O mesmo padre Saldanha, amante de Bárbara, segundo a maledicência dos inimigos. Mentira, dizem descendentes de Bárbara. Mas, voltemos ao que interessa. Bárbara de Alencar casou-se com José Gonçalves dos Santos – comerciante português estabelecido no Crato. Tiveram seis filhos, entre os quais, três considerados revolucionários de 1817: os padres José Martiniano de Alencar e Carlos José do Santos, e Tristão Gonçalves Pereira de Alencar. Como subdiácono, saído de Olinda, Martiniano de Alencar (pai do romancista famoso), desenvolveu intensa atividade revolucionária no Cariri, fez pregações liberais no Crato e, à frente de homens armados, entrou em Jardim para depor autoridades constituídas.

Mais tarde, foi preso. Ele, os irmãos, a mãe, o padre Saldanha. Todos presos. O jovem Inácio deve ter acompanhado esse clima de rebeldia, tragédia e heroísmo. Em seguida, viveu no ambiente de agitação intelectual do Seminário de Olinda, onde estudou entre 1822 e 1825.

Então, padre Rolim foi um rebelde? Falo depois.

Cajazeirense residente no Recife. [email protected]


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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