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Francisco Cartaxo

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Padre Inácio de Sousa Rolim

04/09/2017 às 10h59 • atualizado em 04/09/2017 às 11h02

Padre Inácio de Sousa Rolim

Padre Rolim não é invenção de historiadores. Muito menos de familiares. A vida e a obra de Inácio de Sousa Rolim não são arroubos ficcionais. Ele deixou proveitoso legado ao povo da terra que ajudou a fundar. Quem quiser negar sua contribuição à Igreja, à formação de Cajazeiras, à educação sertaneja terá que revisitar a história com seriedade. Jamais com leviandade. Do contrário, corre o risco de cair no ridículo aventureiro da palavra vazia, gratuita, passional.

Este ano, Cajazeiras comemorou o 217º aniversário de nascimento do padre Inácio de Sousa Rolim. No seu dia, 22 de agosto, aconteceu o tradicional hasteamento das bandeiras em frente ao prédio da prefeitura municipal. Escalado pelo prefeito José Aldemir para fazer a saudação à cidade, enalteci a figura do padre Rolim, chamando a atenção para três aspectos inseparáveis da trajetória do padre e de Cajazeiras: o educador, a feira e os escravos.

Às vezes a gente esquece.

Padre Rolim não foi um mestre-escola dedicado a ensinar a tabuada e a carta de ABC. Ministrou aulas e formou professores que preparavam jovens sertanejos para ingressar nos pouquíssimos cursos superiores existentes no Brasil do século XIX. Grego, latim, francês, filosofia, história natural eram matérias ensinadas no colégio do padre Rolim. Por isso, vinham para a nascente povoação das Cajazeiras rapazes de vários lugares do interior nordestino estudar em regime de internato. O colégio crescia de tamanho físico na proporção da chegada de novos alunos. Citei então o exemplo de Joaquim Arcoverde, de Pernambuco, que pouco tempo depois de aqui estudar já estava na Europa, a fim de continuar o aprendizado, ordenar-se em Roma, retornar ao Brasil e, mais tarde, sagrar-se bispo, arcebispo e cardeal da Igreja Católica. Outros alunos do padre Rolim tomaram o rumo do seminário de Olinda, da faculdade de direito de Olinda/Recife, da escola de medicina da Bahia.

Na minha fala do dia 22, mencionei a primeira feira semanal do povoado de Cajazeiras, realizada em 1848, como evento significativo que impulsionou as atividades econômicas naquele tempo: a criação de gado, o algodão e produtos de subsistência. Não esqueci de realçar a importância de manter plantéis de cavalo, burro e jumento, que, ao lado do carro de bois, eram os meios de transporte das pessoas e de coisas. Como estímulo às primeiras feiras, parentes ricos do padre Rolim compravam os bens trazidos e não vendidos. Uma garantia para atrair vendedores da região. Por que citei a feira? Porque a feira era o acontecimento mais importante naquela época. O colégio e a feira foram dois pilares do progresso de Cajazeiras. Isto é real. Não é invenção. É fato histórico.

Falei também da relação do padre Rolim com escravos. Não é demais recordar: escravo não era gente. Era coisa que se vendia. Pois bem, em suas andanças pelas vizinhanças de Cajazeiras ele batizava filhos de escravos. Assim agia o filho de Vital de Sousa Rolim.
Na solenidade, o ex-prefeito Zerinho Rodrigues pediu a palavra para complementar minha fala e ressaltou a qualidade de santo, atribuída ao padre Rolim. E o fez na esperança de ver iniciado o processo de beatificação.

De propósito, eu fugira desse tema.

Por quê? Os passos formais para a beatificação devem partir da diocese de Cajazeiras. E só ela pode fazê-lo. A diocese deve ter razões para colocar uma pedra no túmulo. Tanto que sequer sabe ao certo onde estão os restos mortais de Inácio de Sousa Rolim, requisito material indispensável para requerer a beatificação. Portanto, cabe à diocese falar.

Autor do livro, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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