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Alexandre Costa

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Os três patetas: assim nasceu o novo aeroporto de Cajazeiras

21/08/2023 às 20h22

Coluna de Alexandre Costa - Foto: Diário do Sertão

Por Alexandre Costa – O ano era 2001, a modorrenta Cajazeiras do início do século XXI começava a dar os seus primeiros sinais de ebulição no seu crescimento desordenado com ocupações irregulares de seus espaços urbanos desrespeitando o nosso velho e surrado plano diretor do município. É aí que se registra a primeira vítima deste nefasto desordenamento: o nosso velho aeroporto Antônio Tomás.

O primeiro ataque aconteceu logo no começo dos anos 90, quando o governo municipal resolveu, equivocadamente, implantar nas suas margens um conjunto habitacional travestido de uma agrovila, sem contar ainda com uma torre de uma emissora de rádio fincada na cabeceira da pista que sepultava de vez os planos de expansão daquele aeroporto.

Não deu outra, a agrovila que de agro não tinha nada, literalmente engoliu o nosso aeródromo a tal ponto que as operações de pousos e decolagens eram precedidas de uma verdadeira operação de guerra da Polícia Militar com homens e viaturas para desobstruir a pista impedindo a passagem de veículos, carroças, motos, animais para garantir a segurança do voo.

Depois desses sucessivos constrangimentos o cajazeirense chegava a triste constatação: não tínhamos mais aeroporto. Foi aí que resolvemos agir, fomos ao prefeito da época, Carlos Antônio, que se mostrando extremamente preocupado com o problema nos autorizou a encontrar um terreno propício que faria a doação para a construção da obra.

Éramos três, dois engenheiros e um professor universitário, representantes da Sociedade Civil Organizada que abraçaram a causa com o firme proposito de trazer de volta o nosso aeroporto. O primeiro passo foi identificar as áreas de topografias favoráveis onde possivelmente poderiam ser implantado o nosso futuro aeroporto. Visitamos varias áreas e selecionamos duas: uma, no sítio Santo Onofre e a outra no Vale Verde. A primeira apesar de uma topografia razoavelmente favorável no seu topo, foi descartada pelo acesso extremamente acidentado e a distância da sede do município. Ficamos com a segunda opção.  A área no sítio Vale Verde era próxima da cidade e tinha um grande diferencial, estava bem localizada às margens da BR 230 saída para o Ceará. Bingo!  Batemos a parada, mas o melhor estava por vir. Fui informado que a área que acabávamos de escolher era de propriedade de um abnegado cajazeirense, o médico José Maria Moreira. Ao abordar o Dr. Zé Maria com a proposta de comprar uns vinte e cinco hectares de sua fazenda com o intuito de construir o novo aeroporto da cidade, ele foi curto e grosso afirmando: “Dr. Alexandre, o senhor me conhece e sabe do meu comprometimento com o desenvolvimento de Cajazeiras e venho acompanhando a sua luta para resgatar o nosso aeroporto. Vender não! Eu vou, é doar a área, mas com uma condição”. Qual? Retruquei. “O nome do futuro aeroporto tem que levar o nome do meu pai, Pedro Moreira”. Levei um susto, mas reagi rápido: fechado! Nascia ali o Aeroporto Pedro Vieira Moreira.

Voltei ao prefeito exultante com a novidade, já tínhamos uma área para construir o novo aeroporto, o prefeito vibrou claro, não mais precisava utilizar recursos do município para comprar o terreno. A cidade comemorou em peso o desprendimento do Dr. Zé Maria, a imprensa reverberou com intensidade a notícia alvissareira, afinal era passo inicial.

Contudo, merece registro um contundente comentário de um festejado radialista local sobre uma foto emblemática onde apareciam três teimosos cajazeirenses embrenhados na densa mata repleta de juremas, marmeleiros e mufumbos do sítio Vale Verde apontando para o local onde seria o futuro aeroporto de Cajazeiras. Lá estavam: os engenheiros, Alexandre Costa e Stanley Lira e o professor universitário Rubismar Galvão, em pleno meio-dia, sol a pino, arranhados, cansados, suados, transpondo cercas de arames, mas alegres e felizes. E foi nesse acido comentário que o nosso amigo radialista emendou: “construir um aeroporto em Cajazeiras dentro de umas brenhas destas só sendo coisas das cabeças destes três patetas”.

O achincalhe transformou-se em desafio. Partimos para luta, já tínhamos o terreno o próximo passo era o projeto. Foi então que avisado pelo então vice-prefeito Walter Cartaxo que no Departamento de Estradas e Rodagens (DER) tinha um engenheiro especializado em elaboração de projetos de aeroportos e tamanha foi a nossa surpresa quando o abordamos descobrimos que se tratava do cajazeirense Girleno Rolim, filho do ex-prefeito Antônio Cartaxo Rolim. Cajazeirense de boa cepa, Girleno não vacilou, abraçou a nossa causa e em noventa dias nos entregou o projeto do aeroporto. Custo do projeto: um fim de semana no Brejo das Freiras, custeado pelas entidades do comércio. Coisas de Cajazeiras!

A coisa avançava, já tínhamos o terreno escriturado, o projeto pronto, o próximo alvo era o governador do Estado. Em 2008 o governador Cassio autorizou e contratou uma empresa para desmatar a área doada pelo Dr. Zé Maria, faltava à obra. Talvez por um golpe de sorte, ou as bênçãos do nosso Padre Rolim, volta ao comando do Governo do Estado um apaixonado pela aviação, José Targino Maranhão, era a oportunidade que precisávamos.

E foi numa manhã chuvosa do domingo de carnaval de 2009, na residência do ex-prefeito Vituriano que lá estavam Alexandre Costa, Severino Alves, Zerinho, Raimundo Junior e José Cavalcante com o projeto completo do aeroporto em mãos para formalmente fazer o pedido ao governador para construção da obra, cabendo ao jornalista Gutemberg Cardoso fazer a apresentação do grupo ao governador detalhando o objetivo da comitiva. Maranhão foi direto, recebeu e rapidamente folheou o projeto exclamando: “muito bom! muito bom! Quando conseguirem o terreno me avise que vou construir este aeroporto” e saindo da sala repassou o projeto para um dos seus assessores foi quando eu o abordei novamente informando que já tínhamos o terreno e que escritura pública, já estava anexada ao projeto.  Ele voltou, e de imediato pediu o projeto ao seu assessor e conferiu a escritura pública de doação, quase não acreditando no que via, mas não vacilou ao afirmar: “até o último dia do meu governo, Cajazeiras ganhará seu aeroporto”.

De fato, neste mesmo ano de 2009 as obras foram iniciadas pelo DER, residência de Cajazeiras e aconteceu o que todos anteviam, equipamentos de terraplenagem obsoletos, mão de obra limitada enfim a obra não avançava, patinavam. A forte pressão das entidades do comércio e da imprensa forçou o governador agir rápido. Licitou e contratou uma empresa para concluir a obra, a CCM-Construtora Centro Minas Ltda que finalmente executou toda a terraplenagem e asfaltamento da pista de pouso e pátio de estacionamento das aeronaves. Em dezembro de 2010 Maranhão cumpriu parcialmente seu compromisso entregando em solenidade prestigiadíssima o aeroporto com 85% das obras concluídas e honrando o compromisso assumido denominando aquele equipamento aeroviário de Pedro Vieira Moreira.

Em 2011, no início dos anos, Ricardo Coutinho, voltamos à carga, Maranhão deixou o governo com as obras de do terminal de passageiros e cercas já licitados o que Coutinho executou antes do fim deste ano. Mas literalmente, tínhamos uma pedreira pela frente, na verdade, uma grande afloração rochosa nas margens da pista que a Secretaria de Aviação Civil (SAC) exigiu toda sua remoção além de executar toda a terraplenagem na área de escape ao longo dos dois lados da pista. Uma obra de um valor considerável que nos custou injustificáveis seis anos para concluir quando novembro de 2016 pousa uma comitiva do governador acompanhado do senador Raimundo Lira com a tão esperada carta de homologação da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Festa, comemorações, discursos, chororô, mas esqueceram de ler nas entrelinhas do documento da ANAC e verificar que o nosso aeroporto estava bichado. Estava impedido de operar com aeronaves movidas a jato e só permitia pouso e decolagens com pequenos aviões com baixa capacidade de passageiros. A imprensa e as redes sociais não perdoaram aeroporto teco-teco, pista de areia entre outras galhofas.

Estávamos diante uma nova batalha para derrubar todas essas restrições o que somente veio ocorrer em meados de 2019 quando a partir daí solicitamos ao govenador João Azevedo a implantação de linhas aéreas regulares apresentando um detalhado estudo de econometria elaborado por engenheiros do ITA que comprovava definitivamente a viabilidade econômica e operacional do nosso aeroporto. João fez ouvido de mercador ao pleito por quatro anos até que numa atitude surpreendente tomou pra si o desafio e reinseriu Cajazeiras na malha aérea nacional depois de 60 anos. Obrigado governador, os três patetas agradecem!


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Alexandre Costa

Alexandre Costa

Alexandre José Cartaxo da Costa é engenheiro, empresário, especialista em Gestão Estratégica de Negócios pela Universidade Potiguar, diretor da Fecomercio PB, presidente da CDL de Cajazeiras e membro fundador efetivo da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal).

Contato: [email protected]

Alexandre Costa

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Alexandre José Cartaxo da Costa é engenheiro, empresário, especialista em Gestão Estratégica de Negócios pela Universidade Potiguar, diretor da Fecomercio PB, presidente da CDL de Cajazeiras e membro fundador efetivo da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal).

Contato: [email protected]

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