Oportunismo eleitoral de Bolsonaro
Em artigo anterior comentei que Bolsonaro não tem um plano global de governo, contendo diagnóstico, diretrizes, objetivos e metas visando melhorar a vida da população. Ao lado das promessas de reformas estruturantes de Paulo de Guedes, as medidas tomadas pela atual gestão se destinam, preferencialmente, a atender demandas de grupos sociais que lhe dão apoio. Para fins didáticos, apontei três bases de sustentação de Bolsonaro: a) comunidade religiosa, b) comunidade policial-militar e c) grupos ideológicos conservadores. Em outros termos, se falta a Bolsonaro uma estratégia de desenvolvimento para o Brasil, incluindo aí o combate às desigualdades regionais e sociais, sobra a estratégia eleitoral, cuja essência é agradar quem lhe mantém fidelidade.
Essa estratégia não se esgota aí.
Possui outros braços. Na ausência de macro objetivos próprios, visando desenvolver o Brasil, construídos por equipe técnica e discutidos com a sociedade, o governo realiza intervenções pontuais, sem procurar sintonizá-las com as ideias defendidas pelo capitão, no curso de sua vida política. É impressionante a incoerência do presidente da República. O exemplo mais notável de suas contradições é o pagamento do 13º salário aos beneficiários do Bolsa Família. Oxente, o Bolsa Família era tido pela maioria dos apoiadores de Bolsonaro, e por ele mesmo, como um programa eleitoreiro, demagógico, equiparado a uma esmola, tremendo incentivo à preguiça de milhões de brasileiros pobres. Seguidores fieis do capitão eram useiros e vezeiros em desfiar um rosário de argumentos contra o maior programa de transferência social de renda já engendrado na América. Talvez no mundo.
Usavam-no para desfechar pesadas críticas às administrações do PT. Por que então Bolsonaro aderiu ao 13º do BF?
Por mero oportunismo eleitoreiro.
Ora, o maior número de beneficiários diretos do Bolsa Família fica no Nordeste, região governada por opositores, onde Bolsonaro perdeu feio as eleições. Coerência às favas! Importa-lhe minar uma das fontes reais da popularidade de Lula. E não é só. Na mesma linha, cito outro exemplo. Ano passado, Bolsonaro esteve em visita relâmpago às obras de transposição das águas do rio São Francisco. Visita simbólica, a fim de chamar a atenção para duas coisas: a corrupção e a demora na conclusão do grande projeto, iniciado no primeiro governo Lula. E o fez, muito embora estivesse na companhia de políticos comprometidos até a medula com a corrupção. E ainda tentou esconder que encontrou aquelas obras com mais de 95% realizadas! Bolsonaro não veio ao Nordeste para enaltecer o salutar princípio da continuidade administrativa. Isto se faz com fatos. E o fato afirmativo, no caso, seria concluir as obras em tempo curto. Ele preferiu a conversa fiada. Assim, não dá para enganar.
Mais um exemplo.
Em Campina Grande, ao lado de oportunistas políticos paraibanos, Bolsonaro inaugurou um enorme conjunto popular de milhares de unidades habitacionais. Obra de seu governo? Claro que não. Gesto simbólico de sua estratégia, aliás, também contraditório, pois sua política de estímulo à construção civil não prioriza a edificação de casas para as camadas mais pobres da população.
Os três exemplos são o bastante, penso, para desnudar a estratégia eleitoral de quem, sem plano global estruturado para desenvolver o Brasil, só pensa na reeleição. Tudo o mais é secundário.
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