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Francisco Cartaxo

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Ódio na era Bolsonaro

16/07/2022 às 08h53

Coluna de Francisco Frassales Cartaxo.

Por Francisco Frassales Cartaxo

Brasil respira ódio. Contínuo. Nunca se viu nada parecido. Que razões alimentam tanta intolerância ideológica, o radicalismo partidário? E o ódio gerador de violência e mortes? Que desgraças rondam às vésperas da eleição? Na minha idade, já participei de dezenas de pugnas eleitorais. A deste ano é diferente.

Diferente?

Exato. Não se trata de mera questão de escala. Há mudança qualitativa no fenômeno da violência atual. Um passeio pela história do voto respalda esta afirmativa. No Império, votava reduzido número de homens em eleições farsantes, protagonizadas pelos partidos Liberal e Conservador, que disputavam as benesses do poder, sob as graças do monarca. Vencia o pleito quem controlava mais milícias armadas em seus latifúndios. Daí os conflitos sangrentos com feridos e mortos. Em 1872, Cajazeiras viveu o brutal episódio da morte do tenente João Cartaxo.

A Primeira República pouco mudou, embora tenha importado, da Europa e dos Estados Unidos, ideias e práticas inovadoras. As milícias privadas persistiram como a principal fonte de poder e meio de proteção da propriedade, substituindo o anêmico Estado dominado pelas oligarquias estaduais. A violência adquiriu mais amplitude, indo além dos limites municipais. Pior ainda quando se associam partido político e religião. Exemplo? Em 1914, tendo à frente padre Cícero e Floro Bartolomeu, o Cariri depôs pelo bacamarte o governador do Ceará, Franco Rabelo. Por um triz, a Paraíba não viveu algo semelhante sob o comando do coronel José Pereira, de Princesa. Sem o fanatismo religioso, é claro.

No curto período democrático liberal (1946-1964), tempo do PSD e da UDN, havia cenas de violência e mortes, entre adversários, insuflados por inflamados discursos em comícios e passeatas.

Então, qual a diferença para hoje?

A natureza da violência. Antes havia fenômeno localizado, luta entre adversários. Hoje há inimigos. A intolerância, por desventura então existente, era fato episódico. Hoje, não. É generalizada. Está impregnada na alma das famílias, em nome de Deus! O ódio subiu a rampa do Planalto e se alimenta de palavras, gestos e ações concretas. O presidente da República, em posição de tiro, com braços e dedos, induz o cidadão a armar-se. Incentiva a compra de armas e simula metralhar a petralhada!

As milícias privadas do passado, onde estão? Não habitam mais o latifúndio. Traspassam a sociedade, dominam bairros inteiros, invadem as redes sociais. Por que tanto ódio?

Sócio do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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