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Francisco Cartaxo

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O romance fantasma de Celso Furtado

13/01/2020 às 16h12

Coluna de Francisco Cartaxo

Celso Furtado se notabilizou como intelectual e homem de ação. A sólida formação, adquirida desde muito cedo, lhe propiciou enorme desenvoltura acadêmica e aguçada capacidade de análise e interpretação dos fatos, permitindo-lhe apreender como poucos a realidade brasileira e latino-americana. Celso aproveitou muito bem as oportunidades que teve na academia e no trabalho. Neste caso, em especial, quando integrou os quadros da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), na fase pioneira, quando se processaram inovações na forma de analisar a economia das áreas periféricas, mediante interpretações que associavam a aplicação de métodos de diferentes escolas de pensadores, tendo a história como eixo fundamental do processo de conhecimento. A produção intelectual de Celso Furtado, rica, original e profunda, tem suporte nesse amplo contexto, que lhe possibilitou enxergar e propor, com clareza, as intervenções do poder público. Foi assim no Nordeste, ao desenhar a criação da Sudene e, logo em seguida, comandá-la de forma segura até o golpe de 1964.

E a obra bibliográfica de Celso Furtado?

É impregnada de pontuações técnicas e humanistas, relacionadas com história, economia, administração, sociologia, política. Mas isso não é tudo. Desde estudante de direito no Rio de Janeiro, ele alimentou veleidades de ficcionista e chegou a esboçar um romance, que teria este nome horrível: Transumância! No recente livro, organizado por Rosa Freire d’Aguiar, Diários intermitentes, em registro feito no ano de sua graduação, 1944, Celso até esboçou perfis de personagens e segredou que Os momentos de solidão são sempre preenchidos com a ideia desse livro.

Ideia, aliás, que ele carregou a vida toda, tantos são os roteiros de romances com indicações de técnicas narrativas, influenciadas pelas diversificadas leituras, que iam de Marx a Balzac! Daí deriva a reflexão seguinte: Entre O capital de Marx e A comédia humana de Balzac existem mais pontos em comum, quiçá, do que entre duas teses de doutorado sobre o mesmo tema. E mais adiante, As ciências sociais são em grande parte obras de ficção escritas de forma codificada por conveniência dos que a praticam. As proposições que elas formulam dificilmente são verificáveis.

O romance jamais foi escrito.

Por mais que Celso Furtado tenha preenchido seus momentos de solidão tentando avançar na ideia do livro, inclusive procurando incorporar novas técnicas literárias, o fato é que ele ficou só no desejo… O tempo dedicado às inúmeras tarefas acadêmicas e técnicas, sobretudo na Europa e na América Latina, ao lado do exercício de relevantes funções públicas no Brasil, lhe roubaram a tranquilidade necessária à feitura de romances, sonho do verdor dos anos, acalentado desde sempre. Restaram, porém, os contos da juventude, escritos sob o impacto do final da Segunda Guerra Mundial, vivenciado por ele como aspirante a oficial do Exército, mandado à Itália, em janeiro de 1945, no último embarque de pracinhas brasileiros.

A coletânea foi publicada em 1946, por conta do autor, com o nome De Nápoles a Paris – contos da vida expedicionária. Esses contos, de acordo com o próprio Celso Furtado, permaneceram praticamente inéditos, pois tiveram edição privada e sua distribuição se frustrou em razão da falência do editor responsável. São dez textos, que, cinquenta anos depois, foram incorporados ao Tomo I da trilogia autobiográfica: A fantasia Organizada.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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