O presidente da República e o Nordeste
O Nordeste como região legal surgiu no meado do século XX. Antes éramos os do Norte, em confronto com os do Sul, o Brasil assim dividido. O vasto semiárido – do Piauí ao norte de Minas Gerais – enquadrou-se no polígono das secas, base física e formal para a formulação da política de combate aos efeitos das estiagens prolongadas, por meio do acúmulo d’água em grandes e médios reservatórios, combinado com investimentos públicos em obras rodoviárias e em ferrovias, no começo do século XX. O paraibano Epitácio Pessoa foi o presidente da República (1919-1922) mais representativo dessa fase, por dar impulso à construção de grandes açudes para fortalecer as reservas hídricas e de estradas para facilitar o rápido abastecimento de alimentos, em tempo de seca.
O mineiro Artur Bernardes, seu sucessor, paralisou as obras, sob o pretexto de malversação de dinheiro público. O gigantesco esforço do governo Epitácio, gigantesco para época, foi desprezado, deixando-se máquinas e equipamentos ao relento e obras inacabadas. Enorme prejuízo, talvez maior do que a suspeita prática de corrupção. A revolução de 1930 retomou as ações iniciadas por Epitácio Pessoa, sob a enérgica condução de José Américo, notável Ministro de Viação e Obras Públicas.
Novas técnicas de análise econômica levou a uma revisão nos estudos acerca dos problemas do Nordeste. Revisão que tomou corpo no segundo governo Vargas (1951-1954), graças à competente Assessoria Econômica, integrada, entre outros, pelos nordestinos Rômulo Almeida, Jesus Soares Pereira e Cleanto de Paiva Leite. Na mesma década, Celso Furtado clareou o rumo a seguir: o problema fundamental do Nordeste não é a seca, mas a estrutura e a fragilidade da economia da região. Essa nova formulação expunha o secular regime de exploração da terra e das gentes, amparado no Estado clientelista, a serviço da monocultura da cana-de-açúcar e do complexo agroindustrial, baseado no tripé algodão/pecuária/lavouras de subsistência.
Celso exibiu as raízes políticas nordestinas.
Daí firmou-se novo diagnóstico e nova política para o Nordeste. A Sudene, o inovador fruto institucional, provocou resistência fortes dentro da própria região. Argemiro Figueiredo foi um dos baluartes da reação conservadora, ao lado dos barões do açúcar, que impuseram a maior derrota a Celso Furtado: o projeto da reforma agrária na zona da mata morreu nas gavetas do Congresso Nacional.
O restante da história é conhecido.
O governo nascido do golpe de 1964 freou o lado reformista da Sudene, tangenciando as ações que fragilizariam o latifúndio, os usineiros e senhores de engenho. Mais tarde, a Nova República, resultante da conciliação das elites nacionais, que levaria à presidência Tancredo Neves/José Sarney, reacendeu esperanças nos nordestinos, de olho na revitalização da Sudene. Nada feito, o sonho teve curta duração… Color de Mello não deu bolas e Fernando Henrique completou o desserviço extinguindo, formalmente, a Sudene.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, logo que assumiu a presidência, em 2003, instituiu Comissão de Recriação da Sudene, chefiada pela professora Tania Bacelar, com o objetivo de formular nova política para o Nordeste. A Sudene cuidaria do planejamento, tendo recursos estáveis próprios. E aí? Lula vacilou. Recriou a Sudene… sem recursos, sem força. Rendeu-se às irresistíveis pressões do clientelismo. Isto eu contarei depois.
Membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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