O pesquisador Deusdedit Leitão
Deusdedit Leitão foi o maior pesquisador da história de Cajazeiras. Impossível conhecer a fundo o nosso passado, sem recorrer a seus registros. Ninguém o superou no trabalho paciente de coleta de informações em arquivos de igrejas e cartórios. Nestes locais, ele passava horas a fio a compulsar velhos papeis e livros de batizado, casamento e óbito; ou inventários e outros documentos, relicários de nossa história. Isso numa época em que as anotações eram copiadas à mão, depois de extenuante leitura de manuscritos, muitas vezes exigindo a decifração de quase hieróglifos. São famosos, também, seus cadernos de anotações de atos administrativos publicados em jornais da capital.
Menino de calça curta, escutei muitas vezes intermináveis conversas dele com meu pai, no terraço da casa onde eu nasci. Ele compartilhava cópias de documentos, anotações e datas de acontecimentos e figuras do passado de Cajazeiras. Fazia isso por amor ao conhecimento, ao prazer de costurar datas, nomes e fatos, em ilações reveladoras. Aquelas longas divagações entre dois intelectuais de gerações diferentes produziam em mim alegria e espanto. Só muitos anos depois vim ter consciência exata da influência que exerceram em minha formação.
Hoje as relembro como notável estímulo às pesquisas que empreendo no conforto do uso de instrumentos eletrônicos. Que contraste com a trabalheira de Deusdedit! Veja o que ele falou ao tomar posse, em 1978, na Academia Paraibana de Letras.
As pesquisas, no manuseio de velhos e poentos manuscritos, proporcionaram-me maior e melhor conhecimento das figuras que movimentaram nosso passado. A ânsia do irrevelado, daquilo que permanecia relegado ao pó dos arquivos, foi, ao longo de minha vida uma constante preocupação. Jamais me deixei animar pela pretensão do historiador, o que me empolgou foi a pesquisa; foi o trabalho paciente e meticuloso de colher e reunir em meu arquivo os informes que considerava da maior valia para esclarecimentos das minhas dúvidas e para elucidação dos pontos obscuros de alguns aspectos de nossa história, pondo-os nas mãos de quem deles necessitasse porque sempre entendi que não devia ir além da contribuição subsidiária que poderia emprestar aos estudiosos do nosso passado de nossa gente.
Essa peculiaridade do seu trabalho levou Deusdedit Leitão à Academia Paraibana de Letras, embora já tivesse a imortalidade como membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba. Quando presidia a APL, o desembargador Aurélio de Albuquerque o desafiou:
Você é um bom pesquisador e por isso gostaria de lhe fazer um desafio. Nós temos na Academia uma cadeira vaga. Parece-me que ninguém ainda se habilitou a preenchê-la porque o seu patrono é quase desconhecido. Trata-se da cadeira número 16, você sabe alguma coisa sobre Francisco Antônio Carneiro da Cunha?
Isso se deu em 1978, 37 anos após a criação da Academia em 1941! Ao aceitar o desafio Deusdedit tornou-se o primeiro ocupante da cadeira 16. Das 30 cadeiras iniciais só aquela permaneceu vazia durante tanto tempo! Deusdedit foi a pessoa certa para desvendar o mistério de destrinchar a vida daquele patrono, indicado por Coriolano de Medeiros, mas quase desconhecido na Paraíba.
A paixão pela pesquisa histórica proporcionou a Deusdedit Leitão a oportunidade de, na Academia, alargar sua visão, ampliando sua contribuição à História da Paraíba. Voltarei ao assunto.
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