O ouro de Moscou e o Triplex do Guarujá
A formação, em 1922, do Partido Comunista Brasileiro marca o início de um importante momento da história brasileira. Buscando organizar, politicamente, a nascente classe operária nacional, o Partidão, como ficou carinhosamente conhecido, seguiu os ensinamentos de velho Marx e buscou costurar a união internacional dos trabalhadores, na esteira da famosa assertiva: “trabalhadores do mundo, uni-vos”. A presença dos comunistas entre nós também alimenta um leque de lendas, devaneios e convicções delirantes que, reafirmado com insistência, legitimado pelo discurso midiático e subscrito pela toga intocável do Judiciário, ganha foro de verdade absoluta e inquestionável.
Uma das lendas mais mirabolantes que emerge deste cenário é a do ouro de Moscou. As primeiras barras do reluzente metal imaginário teriam desembarcado em nosso país ainda nos idos de 1930. O valioso mineral dos camaradas russos teria proporcionado as condições para que um punhado de trabalhadores, acreditando que a adesão a luta operária dar-se por gesto espontâneo, e não decorrente de articulações, formações, processos políticos de discussão, produção de literatura própria para análise de conjuntura e projeção de ações, tenta derrubar o que se alinhava como a ditadura getulista. O movimento conhecido como a Intentona Comunista de 1935 morre nas tramas idealistas de seus valentes sonhadores. E o ouro não é encontrado.
Mais tarde, nos idos de 1960, ao ouro de Moscou se associam as armas cubanas. Reza a lenda que esta aliança teria possibilitado que os camponeses na Zona da Mata Nordestina forjasse o movimento das Ligas Camponesas, senha para a deflagração da República Comunista do Brasil. Uma lenda que, assumindo contornos de verdade, justifica a implantação de uma das mais violentas ditaduras já registrada em nossa história. A repressão aos comunistas destroçou famílias, torturou corpos, eliminou sonhos, silenciou vidas, escondeu cadáveres insepultos. A violência elevada ao seu grau máximo não consegue, entretanto, dar veracidade a fantasia.
E o ouro e as armas transfiguram-se em quimeras que se apresentam com novas roupagens de verdade.
Agora é o tríplex do Guarujá e o Sítio de Atibaia que escondem e camuflam o ouro de Moscou e as armas de Cuba. Documentos sem autoria, suposições de propriedade, versões apócrifas dão corpo e vida a lenda. É necessário desqualificar, criminalizar. Assim, o ex-presidente Lula, que gosta de nossa aguardente, e não dos sofisticados champanhes e uísques importados, que carrega caixa de isopor na cabeça em suas férias presidenciais, tem o perfil ideal para ser o personagem principal dessa lenda de tríplex e sítio glamoroso.
Ao filho de retirantes nordestinos, que concluiu apenas a escola primária, que teve sua formação política no chão da fábrica e na lida sindical e que, como presidente do país, empreendeu o mais intenso e conseqüente programa de inclusão social e de redistribuição de renda, tem mesmo que virar personagem dessas lendas verdadeiras.
Desqualificar o Lula, lhe atribuindo propriedade e autoria de atos e ações tingidas de corrupção, é uma orquestração para que, o cartão do Bolsa Família, o medicamento da Farmácia Popular, o médico que atende a família, o atendimento emergencial do SAMU, o Minha Casa, Minha Vida sejam apenas vestígios de uma história de dignidade que se esvai nas brumas dos sombrios tempos de humilhações e mendicância que alimenta e sustenta o edifício da miséria e das elites rancorosas e fascistas.
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