O indesejável ano de 2020
Por Francisco Cartaxo
O ano de 2020 nunca será esquecido. Nem aqui nem na China. Pior do que uma guerra mundial, deixará profundas marcas. E mortes bem junto da gente. Difícil encontrar alguém sem ter vivido a angústia de pessoa próxima sofrendo numa enfermaria ou na UTI de um hospital covid. Sem ter a gente do lado. Felizes os que comemoram a volta do hospital. Impossível haver alguém que não tenha um infectado perto: um parente, um amigo ou conhecido. O sofrimento agravado pela agrura de sequer passar a mão na cabeça ou pousar um suave beijo no rosto inerte.
A morte não pode ser um número.
Deixa marcas na alma para sempre. A agressividade do vírus, com sua invisível, mas destruidora presença, em todos os lugares, nos mata um pouco a cada dia. Confinada, boa parte da população sofre situações terríveis. Outra parcela se expõe à contaminação e vive horríveis momentos para o corpo e a alma. Os relatos de quem voltou ao convívio doméstico são cortantes. Minha sogra falava em angustiantes desastres aéreos, eu ouvia barulho de avião, recordava, antes de falecer.
E a sobrevivência econômica?
O entrave às atividades econômicas leva à bancarrota empresários e empregados. Um ou outro setor escapa, graças ao aumento circunstancial da demanda por bens e serviços, provocado pela pandemia. A recomposição dos setores baleados pelo coronavírus vai demorar muito tempo. Sequelas incalculáveis.
Há muito o que avaliar.
No futuro o historiador, ao se debruçar sobre os fatos de hoje, ficará estarrecido. Os cientistas, talvez, sejam cobrados pela falta de celeridade na descoberta dos caminhos para combater o inimigo mortal. Tanto conhecimento acumulado não foi suficiente para evitar a avassaladora crise sanitária no planeta. Cientistas têm este atenuante: foram incansáveis em seu labor.
Que dizer dos homens públicos?
Mais do que a ciência e a técnica, a cobrança forte atingirá aqueles que comandam suas nações. Aqui o leque de hipóteses é largo. Fixo-me em três. No primeiro bloco estão os governantes que não duvidaram da ciência e procuraram respaldar suas ações em diretrizes fornecidas por técnicos e cientistas. Esses políticos tiveram consciência, desde cedo, da gravidade da inusitada situação e assim devem ser julgados no futuro. É caso de Ângela Merkel, da Alemanha.
A segunda hipótese abriga dirigentes que, no primeiro momento, desdenharam do invisível. Depois, renderam-se à realidade, como fez o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson. Então, pediu desculpas e, ele próprio contaminado pelo vírus, mudou o curso de suas decisões. No julgamento da história haverá borrifo de água benta…
No terceiro bloco figuram governantes que negam o valor da ciência e da técnica. E ignoram o planejamento. Eles menosprezam a gravidade do vírus (“uma gripezinha”), minimizam a morte das pessoas e afrontam a dor das famílias (“e daí”), cerca de 1. 650.000 mortes no mundo! Mais de 180.000 no Brasil! O presidente, despido de qualquer sentimento de respeito, debocha da tragédia. Acha pouco. Agora, quer matar a esperança de milhões de brasileiros que confiam na ciência e, ansiosos, aguardam a vacina, único meio eficaz de combater o coronavírus.
Eu não vou tomar a vacina e ponto final.
Belo exemplo, presidente Jair Messias Bolsonaro! Para seu ícone, Donald Trump, o castigo chegou logo, os mais de 300.000 corpos de americanos ainda estão mornos. Mas os eleitores da poderosa nação já o defenestrou do poder.
Presidente da Academia de Artes e Letras – ACAL
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