O governo Bolsonaro vai bem?
– E aí, como vai seu presidente Bolsonaro?
Fiz a pergunta sem intenção de provocá-lo. Saiu espontânea, para puxar conversa com Telêmaco, meu companheiro de caminhada matinal na Praça da Casa Forte, há muitos anos. Fazia um tempão que a gente não se via. Ele andara meio adoentado, com dificuldade de locomoção, as articulações a incomodar seus passos. Por trás da pergunta, no entanto, havia um forte motivo: Telêmaco foi um dos mais exaltados eleitores de Bolsonaro, entre muitos que integram o bloco de velhos caminhantes diários, nesse aprazível pedaço da zona norte do Recife.
A surpresa da resposta vale uma crônica.
– Nem me fale, me disse Telêmaco, perdi meu voto. O cara só fala merda, Cartaxo, toda semana tem uma besteira nova. Até agora não vi muita coisa de proveitosa, joguei me voto no mato!
– Mas em compensação você ficou livre do PT.
– Taí, foi única vantagem, mas isso é muito pouco, você não acha?
– ???
– Eu queria que, a essa altura, quase nove meses de governo, a gente tivesse sinais visíveis da retomada do crescimento ou, pelo menos, um rumo para a economia, que pudesse dar esperança a quem está à procura de emprego. Não é o meu caso, eu quero sentir o mercado reagir, as coisas acontecerem, para melhorar de vida.
Telêmaco é corretor imobiliário.
Não entrou em desespero, ainda, porque é experiente profissional, acostumado com as crises periódicas e seus reflexos nas receitas auferidas como fruto de seu trabalho. Além disso, tem vida modesta de cidadão de classe média. Queixou-se da paralisia do mercado. Citou o drama de um amigo comum, engenheiro, com atuação no segmento de construção de casas populares. Ele tem comido o pão que o diabo amassou, disse, e passou a narrar conversas que tiveram semana passada. Na verdade, uma troca de desabafo. Os dois votaram em Bolsonaro, sonhando com mudanças efetivas na política e na economia, na correção de desvios de conduta da classe política e, sobretudo, almejando segurança para os negócios empresariais. Estabilidade econômica e política, seu Cartaxo, capaz de inspirar confiança aos investidores, era tudo o que a gente esperava de Paulo Guedes, aquele que vocês debochavam, chamando de Posto Ipiranga…
Tentei lhe dar um alento.
– Mas na política externa foram introduzidas mudanças, você não acha?
– Outra merda! Querer o filho na embaixada dos Estados Unidos? Horrível! O Brasil tem muita gente da melhor qualidade no Itamaraty, gente formada no Instituto Rio Branco, que, por dever de ofício, acompanha a conjuntura política do mundo inteiro. Colocar o filho em Washington para ficar em kikiki com o presidente americano, puta-que-pariu, Cartaxo. Olhe, não sei não, na pisada que vai esses caras vão entregar o poder de volta ao PT.
Espantei-me.
Mesmo sem maiores informações, além das que circulam na mídia tradicional, Telêmaco falou com amargura da família do presidente da República. Os filhos têm mais poder do que os generais que servem no governo. Como é que pode?
Influenciam as decisões de Bolsonaro mais do que todo mundo. Tá certo isso? Qual é o mérito desses meninos para dar rumo político ao governo do pai? Ora, a vida toda eles só fizeram política, metidos em eleição… até em coisas cabeludas, pelo que andam dizendo. Estas últimas frases vieram baixinhas, quase ao meu ouvido.
Telêmaco fala com amargor. Logo ele que enxerga nos militares o grupo social mais honesto e patriota do Brasil.
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