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Francisco Cartaxo

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O espírito da lava jato

27/11/2017 às 08h29 • atualizado em 27/11/2017 às 08h32

Sérgio Cabral. Foto: Fabio Motta/Estadão

Sérgio Cabral queria ser presidente da República. Preparou-se para isso. Fez sucesso como político, foi de vereador até governador do Rio de Janeiro. Comunicativo, envolvente, bom de mídia. Firme nas respostas. Irradiava otimismo. Pragmático nas alianças políticas, se uniria a Aécio a Lula, sem constrangimento. Com o mundo empresarial armou esquemas de troca de favores como poucos chefes de quadrilha criminosa fizeram neste Brasil promíscuo e corrupto. Assim, acumulou joias e outros pertences de grande valor e liquidez. Sem contar os dólares em contas secretas, além mar. Enfim, Sérgio Cabral estruturou-se para financiar sua campanha presidencial.

Seria um sonho ser presidente?

Ora, um jovem governador sem brilhantismo nenhum, montado no falso jegue de caça aos marajás, subiu a rampa do Planalto! Collor governara um estado pequeno sem expressão política. Cabral comandou o charmoso Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral. O desejo de ser presidente da República não era delírio de farrista eventual na noite parisiense, mas um objetivo real. O caminho estava desenhado. Passos concretos já eram dados, boa imagem de governante, político moderno, avançado. E mais, recebera rios de propina para arcar com as despesas da campanha. Só não contava com um pequeno empecilho.

A lava jato no meio do caminho.

Dali começaram a surgir sinais amarelos. Havia para ele, dizem, uma nesga de esperança: Curitiba estava assoberbada de processos. Que azar! O torpedo sai do Rio, da 7ª Vara Federal Criminal, atirado por Marcelo Bretas, um juiz pouco conhecido. Vindo da classe média, indignado com a corrupção sistêmica, como são muitos juízes, procuradores e agentes policiais. Como está indignada e revoltada, aliás, a maioria dos brasileiros.

O mensalão foi o mote.

Marcelo Bretas assistiu pela televisão o julgamento do mensalão. Analisou a essência dos debates entre os ministros do STF, viu as querelas do relator, Joaquim Barbosa, com Ricardo Lewandowski. Acompanhou tudo. Então decidiu alinhar-se de corpo e alma ao combate à corrupção. Requereu transferência para a 7ª Vara Criminal, em 2015. Ali ficaria à vontade. A partir daí ele e sua família vivem sob a proteção policial. (Não sou de enxergar em tudo ato de heroísmo. Sabe disto quem lê os garranchos semanais que escrevo nestes últimos 13 anos). Por isso, entendo que só aparecem juízes como Moro e Bretas, porque a Constituição de 1988 assegura condições de autonomia à Polícia Federal, ao Ministério Público e à própria Justiça. Não é quixotismo, portanto.

Seria o espírito da lava jato?

A Lava Jato não é um conjunto de investigações, é uma nova forma de se fazer justiça e de combater a corrupção. A Lava Jato é eterna. É operada com um novo padrão, de julgamentos mais rápidos, profundos e imparciais, em que não importa quem esteja envolvido. Doa a quem doer. É uma nova era na Justiça brasileira com profissionais envolvidos 24 horas por dia.

Esse conceito foi emitido por Marcelo Bretas, semana passada, em entrevista ao jornal espanhol El País. A operação lava jato pode até acabar em 2018. O espírito da lava jato, não. Sérgio Cabral foi condenado a 72 anos de prisão, em três sentenças. Está preso há um ano e existem ainda 13 denúncias ajuizadas contra ele. O espírito da lava jato continuará por muito tempo. Ladrão como Sérgio Cabral não vai postular a presidência da República. Muito menos subir a rampa do Planalto.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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