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Francisco Cartaxo

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O enigmático Allyrio Meira Wanderley

12/07/2024 às 17h37

O enigmático Allyrio Meira Wanderley

Por Francisco Frassales Cartaxo – O advogado, professor, historiador Renato César Carneiro lançou o livro Allyrio Meira Wanderley, o romancista, o primeiro de três volumes de cuidadosa pesquisa destinada a preservar-lhe a memória literária. Em seguida, virão o controverso ensaio As bases do separatismo e uma coletânea de artigos, escolhidos entre os “mais polêmicos” de seu ilustre conterrâneo de Patos, como avisa o organizador dos textos.

Quem foi Allyrio Meira Wanderley?

Allyrio viveu sinuosa trajetória em menos de 49 anos. Entre 1906 e 1955, estudou em Patos, João Pessoa, Recife, São Paulo. Abandonou os estudos de Ciências Jurídicas e Sociais. Andou pela Europa. Leu e escreveu muito, de forma desordenada, enquanto ganhava a vida como jornalista no Sudeste e em João Pessoa. Deixou romances, novelas, peças de teatro, ensaios, centenas de textos jornalísticos, incluindo os de coluna literário que manteve em jornal paulistano. Muitos escritos ficaram na gaveta. Alguns romances foram publicados, entre 1931 e 1945: Sol criminoso, Os brutos, Bolsos vazios, Ranger de dentes.

O ensaio As bases do separatismo (1935) motivou a abertura de processo criminal, que, já no Estado Novo, resultou em sua condenação a 3 anos de prisão celular pelo Tribunal de Segurança Nacional. Mais dificuldades para Wanderley, em um período histórico de forte agitação política e ideológica no mundo, o nazismo em alta com a ascensão de Adolf Hitler na Alemanha, ao tentar viver o sonho da hegemonia mundial.

E a figura de Allyrio?

O escritor paulista Nuto Santana, (Benevenuto Silvério de Arruda Sant’Anna), um dos muitos que comentaram os livros de Wanderley, traça seu perfil:

(…) olhos castanhos, cabelos para traz em desordem, barba em desordem maior. É um brasileiro do Norte, corado, com espírito de um cangaceiro intelectual e um physico e uma aparência que traem, nele, o hollandez ancestral do tempo de Maurício de Nassau. (…) me pareceu extremamente enygmático, (…) tendo-lhe perguntado se era parente de uns Wanderley litteratos, do Norte, me disse que não. “Nascera de geração espontânea, filho de um raio de sol e de uma pedra”.

Pouco antes da morte precoce, Allyrio movimentou a cena literária da pacata João Pessoa, fazendo conferências a respeito do materialismo estético. Época em que se meteu na política paraibana, sendo até mesmo candidato a deputado estadual pelo velho PSD – Partido Social Democrático, em 1954. Obteve apenas 351 votos, muito distante do último eleito pela legenda, Sílvio Pélico Porto, com 2.459 sufrágios, conforme registro em A bagaceira eleitoral, outro livro do pesquisador Renato César Carneiro.

Allyrio Meira Wanderley continua um enigma para muitos de nós. Em sua sinuosa vida, elogiou e foi elogiado, fez e recebeu comentários ácidos, até mesmo de gente que sequer leu seus livros… Mas também passou pelo crivo de intelectuais sérios como Tristão de Athayde, Álvaro Lins, Adonias Filho. O primeiro volume da pesquisa de Renato César deixa uma vontade enorme de ler os romances de Allyrio, tão divergentes são os pontos de vista em torno de sua obra.

Bem fariam os órgãos governamentais da Paraíba, responsáveis pelo incentivo à cultura, se incluíssem em suas programações a reedição de livros selecionados do polêmico intelectual sertanejo.

Da Academia Cajazeirense de Artes e Letras


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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