O dilema da França
Por Francisco Frassales Cartaxo
A França não é um país qualquer. Desde recuados tempos, inspira os povos do mundo. No século XVII, quando o Brasil não passava de um território cobiçado por saqueadores de nossas riquezas, nascia na França (1635), a primeira Academia de Letras, que foi modelo para o planeta. Até a Academia Cajazeirense de Artes e Letras se espelhou nela, ao ser fundada em 2019, quase quatro séculos depois.
No século XIX, dezenas de movimentos rebeldes, iluminados por novas ideias amadurecidas ao longo dos anos, resultaram em profundas mudanças, das quais é símbolo notável a Revolução Francesa. Mudanças que abalaram as estruturas da sociedade no seu entorno e influenciaram os costumes, a formulação de conceitos e princípios que deram suporte a novas organizações nacionais.
Um agente político novo emergiu: o povo.
E forçou a queda e alterações nos regimes políticos absolutistas, “originados” em divindades, exercidos por famílias entrelaçadas. O centro do poder, até então reinante, deslocou-se para incluir, também, camadas da base da pirâmide social. O voto individual passou a ser instrumento de manifestação da vontade de muitos, quando das decisões acerca dos rumos a seguir por boa parcela da população reunida em nações independentes. A França estava na raiz desses movimentos, logo espalhados pela América Latina. O Brasil imperial, a seu modo, não ficou imune.
No século passado, duas grandes guerras e revoluções sociais mexeram na face ideológica, política e social do mundo. Velhos preconceitos étnicos, raciais explodiram de maneira violenta, cruel, desumana e mortal. Quando as tropas nazistas tomaram Paris, o mundo chorou. A barbárie impôs-se pela força bruta. As ideias democráticas impregnadas no povo, lá atrás, de novo se manifestaram na atuação dos maquis, a fim de ajudar a derrubar o espantalho que, em nome de falsa “pureza” étnica, violou, prendeu, torturou e exterminou milhões de famílias indefesas.
Hoje o mundo observa a França.
No segundo turno, em dia 24 de abril, que rumo terá a França? A extrema direita da senhora Le Pen ou a gestão liberal democrática de Macron? Partidos divergentes se unirão para barrar o domínio dos saudosistas do nazismo? O povo francês, cansado de fracassos do liberalismo, abraçará defensores de ideologia que, no passado, quase destruiu conquistas milenares da humanidade? Eis o dilema francês. Um desafio do mundo. O Brasil de olho na França.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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