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Francisco Cartaxo

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O colégio na origem de Cajazeiras

27/08/2018 às 08h53

A frase Cajazeiras nasceu em torno do colégio do padre Rolim foi escrita, dita e repetida milhões de vezes. Ninguém suporta mais ouvi-la… é assim que o leitor deve estar pensando, agora, enquanto a lê mais uma vez. Mas será que a gente sabe como se deu, na prática, o nascimento de tão singular núcleo urbano? O arruado surgiu e foi crescendo, crescendo até adquirir a condição de vila, sede de município. Quanto tempo durou esse processo? Apenas 40 anos! Uma fazenda de gado e algodão se transformou em cidade, no curto período de quarenta anos!

Como ocorreu tão incrível mudança?

Padre Rolim dava vida intelectual a muitos jovens da redondeza da fazenda das cajazeiras e de terras muito mais longe. Vida e luz por meio de seus ensinamentos. Mais uma vez é necessário recordar que Inácio de Sousa Rolim não era mestre-escola, isto é, ele não se encarregava de ensinar o ABC e a fazer contas. Essa relevante tarefa era desenvolvida por outras pessoas, atraídas pelas famílias abastadas. O mestre-escola passava temporadas nas fazendas dos ricos e ali exerciam sua missão educativa. Vale dizer, o mestre-escola não era fator de crescimento dos lugares onde, provisoriamente, morava.

Padre Rolim, diferente do mestre-escola, ensinava latim, grego, filosofia, história natural, geografia, retórica. Disciplinas necessárias, à época, para ingresso em um dos poucos cursos superiores existentes. Os rapazes vinham para cá em lombo de burro, dias e dias seguidos, usando o único meio de transporte do século XIX no sertão. Onde ficavam hospedados? No colégio do padre Rolim. Por isso, o colégio crescia na medida em que os estudantes iam chegando. Para acomodar os novatos, fazia-se uma puxada hoje, outra, amanhã. Claro no ritmo próprio da tecnologia de construção civil rudimentar, daquele longínquo tempo. O quarto onde o aluno dormia na rede à noite virava sala de aula durante o dia. Depoimentos de jovens que se tornaram famosos, registraram, anos depois, esse sistema de vida e aprendizado. Eles relataram a experiência vivida no então povoado de Cajazeiras.

Então, o arruado como se formou?

Primeiro, vieram os estudantes. Depois, chegaram seus pais. De mala e cuia. Algumas famílias, com grande número de filhos homens, resolviam morar em Cajazeiras. Era menos dispendioso do que pagar o internato ao padre Rolim. Chefes de família aqui aportavam e se estabeleciam, como negociantes, fazendeiros. Seriam estes os primeiros cajazeirados? Talvez. A característica de receber bem e abrigar gente de fora foi marca nossa desde sempre. Virou tradição para inveja de outros lugares, onde se olhava de soslaio os forasteiros.

E os professores do colégio?

Padre Rolim não ensinava sozinho. Ele formou aqui muitos dos professores de seu colégio. E estimulava alguns parentes e amigos a estudarem fora. Jovens daqui iam formar-se no Recife, tornando-se padres e bacharéis em direito. Outros sequer saiam de Cajazeiras. Aprendiam aqui mesmo grego, latim, francês, noções de história, geografia e passavam a ministrar aulas no colégio, como foi o caso do sobrinho, Higino Gonçalves Sobreira Rolim. Além de professor, Higino Rolim foi rábula, suplente de promotor público, vereador, prefeito e deputado estadual sem nunca ter pisado os pés num seminário católico ou faculdade.

Conclusão. Cajazeiras nasceu em torno do colégio do padre Rolim, não é uma frase de efeito, pronunciada para agradar o sacerdote. É fato comprovado em pesquisas históricas. É um saco ouvi-la, eu sei, mas paciência.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

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