O antigo Hotel Oriente
O prefeito José Aldemir anunciou em debate na TV Diário do Sertão que irá instalar no antigo Hotel Oriente o “Espaço Cultural de Cajazeiras”. Dito às vésperas da eleição parece promessa de candidato à reeleição. Mas não é. Pelo que acompanho do esforço incansável do competente secretário municipal de Cultura e Turismo, Ubiratan de Assis, a fase atual é o coroamento de articulações demoradas e sérias. Portanto, prego batido, ponta virada.
O casarão tem história.
No prédio, que fica na travessa Francisco Bezerra, esquina com a rua Tenente Sabino, funcionou o Hotel Oriente, referência de hospedagem em Cajazeiras, durante muitas décadas. O quase centenário edifício irradia história, até mesmo em sua localização. Quem foi tenente Sabino? O cearense Sabino de Souza Coelho (1815-1908), veio para Cajazeiras muito jovem e aqui se casou com Maria Florência das Virgens, irmã do padre Rolim. Foi comerciante, fazendeiro e, talvez, o primeiro construtor de casas, ajudando a dar nova feição urbana à povoação das cajazeiras. Teria sido ele o inspirador da primeira feira semanal de Cajazeiras, em 1848.
E Francisco Bezerra, quem era?
Filho de Manoel Bezerra de Souza e Ana Bezerra (Mãe Aninha, dos Bezerra), foi comerciante, vereador, proprietário rural de patrimônio avultado. Nascido em 1842, ao falecer com apenas 42 anos, deixou dezenas de propriedades rurais e prédios urbanos. Antes de morrer, em janeiro de 1884, a quatro anos da abolição da escravatura, concedeu alforria a seus escravos, fato exaltado por Deusdedit Leitão, em crônica de 1956.
O casarão foi construído, na década de 1920, pelo coronel Joaquim de Souza Rolim Peba (1872-1934), com a finalidade de abrigar uma casa de saúde, para seu filho, João de Souza Rolim Peba (dr. Juca Peba), que estudava medicina no Rio de Janeiro. Coronel Peba foi vereador em várias legislaturas, construiu fortuna com esforço, tornando-se um homem rico. Quis presentear o filho médico com um local adequado ao exercício de sua profissão. O sonho gorou. Doutor Juca Peba trilhou outros caminhos para ganhar dinheiro.
Aí pelos idos de 1927/1928, porém, ali funcionou a Casa de Saúde Miguel Couto, empreendimento dos jovens médicos, Otacílio Jurema e Celso Matos Rolim. Durou pouco. Em menos de um ano, desfez-se a sociedade daqueles dois médicos, que, aliás, viriam a ser prefeitos de Cajazeiras. Celso, no tempo da ditadura de Vargas, nomeado em 1937 para o lugar que fora de seu pai, o coronel Joaquim Matos, eleito em 1935 e deposto pelo Estado Novo. Otacílio governou Cajazeiras duas vezes, vitorioso nos pleitos de 1951 e 1959.
Fechado o Hotel Oriente, o imóvel foi ocupado por empresas com outras atividades lucrativas, inclusive estabelecimento de ensino. Imóveis, com as características daquele casarão, correm sérios risco de perecer se não tiver uma ocupação que lhe garanta a manutenção permanente. Fechado é morte certa. Em breve, será espaço para instituições e eventos artísticos e culturais, inclusive, a Academia Cajazeirense de Artes e Letras (ACAL). Cercado de referências históricas, o antigo Hotel Oriente terá o nobre uso de abrigar e impulsionar atividades culturais. Lá a ACAL terá seu endereço e poderá desenvolver programação literária, artística, cultural, correspondendo, assim, à sensibilidade do prefeito Zé Aldemir no apoio e preservação do patrimônio arquitetônico e histórico da terra do padre Rolim.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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