header top bar

Francisco Cartaxo

section content

O amor de Adegildes à radiofonia

08/06/2015 às 18h39

Tudo o que se disse a respeito de Adegildes ainda é pouco. Muito se falou dele após sua morte, no dia 29 de maio. E muito escutei em Cajazeiras onde me encontrava e aproveitei para narrar algumas passagens de sua vida, como forma de homenageá-lo pelo seu trabalho em favor de nossa terra. E o fez com muita paixão. Paixão e amor pela radiofonia, sua maior cachaça, e por Cajazeiras. Entre as verdades ditas acerca de José Adegildes Bastos, uma foi mencionada à exaustão: seu pioneirismo no campo da radiodifusão. Aliás, expresso antes mesmo de Cajazeiras ter emissora de rádio autorizada a operar em ondas médias. 

De temperamento irrequieto, Zé Adegildes respirava rádio. Sempre. Ao lado de todas as iniciativas, agora relembradas, há duas que desejo ressaltar nesta crônica: a montagem de emissora de rádio artesanal e a fundação e instalação de serviço de alto falantes em Marizópolis. Não que ele agisse sozinho, é claro, pois outras pessoas estavam a seu lado nessas empreitadas. Falo das duas iniciativas como testemunha, pois acompanhei de perto como aprendiz de locutor da DRC, na época em que a Difusora funcionava no primeiro andar da firma Carvalho & Dutra, com endereço na avenida Presidente João Pessoa, esquina com a rua Padre José Tomaz, hoje ocupada por loja de Rubismar Galvão. 

Pois bem, a mania de Zé Adegildes, aliada ao desejo de ver Cajazeiras com uma emissora de rádio, o levou a montar um transmissor de baixa potência, a partir de peças avulsas que ele ia adquirindo e recorrendo, salvo engano de memória, a Brigadeiro ou a Moisés, dois profissionais especializados em consertar receptores de rádio e outros aparelhos eletrônico. Adegildes tanto fez que conseguiu colocar no ar a engenhoca. Muitos cajazeirenses escutaram, emocionados, o som emitido em nossa própria terra! É verdade que eram poucos os aparelhos então existentes, mas a vaidade era enorme, muito embora a sintonia fosse uma loucura porque o equipamento não dispunha de uma peça chamada cristal, o que deixava o som espalhar-se sem qualidade. Foi ao ar na marra, sem autorização de nenhum órgão oficial, com a coragem e o eterno amor ao rádio. Quando foi isso? Não sei ao certo. No início da década de 1950 ou, talvez, no começo da seguinte. Lembro, porém, que o fato ocorreu em ano de eleição municipal, porque a ousadia maior foi transmitir a apuração dos votos diretamente do Fórum! Transmissão feita urna a urna, na marcha das apurações, no tempo do voto em papel, contado pelas mesas apuradoras compostas, em sua maioria, por funcionários do Banco do Brasil.

O outro episódio que narro hoje foi a inauguração do primeiro serviço de alfo falantes de Marizópolis. Adegildes me levou com ele para o então distrito de Sousa, numa noite de festa, com muita cerveja e furtivos flertes, em 1954. Lá estava também o locutor José Gonçalves, muito antes de ser prefeito de Bom Jesus. Se ainda tiver boa memória, ele haverá de lembrar que cantou seguidas vezes a canção “Normalista”, penso, cheio de paixão ocasional por uma jovem professora que distribuía simpatia e beleza, no frescor da idade… Guardo na memória a cena ocorrida na calçada de um bar ao lado do estúdio da pioneira difusora de Marizópolis.

Relembrei apenas um naco do muito que gostaria de dizer a respeito de José Adegildes, de quem, por mais que se fale, ainda é pouco diante de sua imensa dedicação e do amor à radiofonia e a Cajazeiras.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Recomendado pelo Google: