O abraço do pai de Alexandre Costa
Por Francisco Frassales Cartaxo
Concorreram quatro candidatos a prefeito de Cajazeiras em 1963: Chico Rolim (UDN), Acácio Braga (PSD), Raimundo Ferreira (PSB) e o major Zé Leite (PL). E seis a vice-prefeito: Abdiel Rolim (PRT), Júlio Bandeira (PSB), Donato Braga (UDN), Itamar Lavor (PSD), Vicente Leite (PTB) e Ulisses Mota (PL). Na época votava-se, separadamente, para prefeito e vice. Em disputa duríssima foram vitoriosos Chico Rolim e Abdiel Rolim.
Estudante de Direito na Bahia, vim passar as férias de julho em Cajazeiras e, no mesmo dia, falei no comício de Raimundo, na rua Doutor Coelho. No meio do discurso, lancei o slogan Raimundo e o povo contra o resto, que fora usado por Osório Vilas Boas, candidato em Salvador, apoiado pelo PCB, em quem, aliás, eu não votei. Foi um vexame. No dia seguinte, um primo de meu pai foi queixar-se. Padim Cartaxo, seu filho vem da Bahia apoiar um forasteiro e ainda chama a família de resto! Resto é lavagem, é comida de porco. Meu pai escutou Eutrópio, pacientemente. Depois, me contou o que eu já ouvira sem ser visto…
Me engajei na campanha.
Fazia o guia eleitoral na Difusora, então, um serviço de alto-falantes, e participava de comícios, junto com Edme Tavares, também estudante de Direito, ele já de olho em futuros votos. Penso que só fiz um discurso bom. Foi em comício no Alto do Cabelão ou bairro do Belo Horizonte. Caprichei no tema democracia e tentei aplicar à realidade de Cajazeiras os princípios democráticos. Defender a democracia era, eu dizia, votar em Raimundo Ferreira, candidato sem ligações com velhas oligarquias clientelistas.
Tota Assis estava no palanque.
Tota adorava um microfone! Líder ruralista de direita por convicção ideológica, devia me olhar atravessado. Então se falava que eu era comunista porque participava de congressos da UNE, me envolvia em passeatas da Frente Operária/Estudantil/Camponesa, que defendia o ensino público gratuito, a reforma agrária e a Petrobras e lutava contra o imperialismo americano! Só pode ser comunista, cochichavam. Portanto, eu seria “inimigo” de Antônio Costa Assis. Pois bem, ao terminar o discurso, Tota me abraçou e disse: hoje você falou bonito!
Não havia rancor.
Passada a eleição, o pai de Alexandre Costa chegava a promover almoço de conciliação entre adversários. Hoje relembro essas coisas horrorizado com a violência, a intolerância e o ódio, a ponto de o TSE proibir, com acerto, o uso de arma de fogo perto dos locais de votação, dois dias antes e um dia após a eleição.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário