No terraço de Nathanael Alves (2)
Por Francisco Frassales Cartaxo
Da João Machado ao terraço de Nathanael foram três anos. Gonzaga Rodrigues me levou. Eu morava na rua Lauro Torres, a poucas quadras da casa de Nathan e já o conhecia pela leitura de sua crônica diária, no jornal O Norte, que, em 1978, abrigava quase todos os frequentadores de sua modesta residência. Nas noites de sábado, às vezes, era o primeiro a chegar, quando o papo se arrastava no pausado ritmo do jeito de Nathan.
Um pequeno jardim separava nossas conversas da tranquila rua de paralelepípedos. Falava-se de tudo. Desde algum acidente banal no Rio aos assuntos daqui e do mundo, lidos nos jornais. O que mais me interessava, no entanto, eram episódios de bastidores. O puxa-encolhe do meio jornalístico, informações da história e da política da Paraíba, em particular, quando envolviam fatos e personagens do governo de Ivan Bichara. Como secretário de planejamento e coordenação geral, sempre muito discreto, me afastado de comes-e-bebes, sobretudo os informais, costumeiros entre auxiliares do governo. De todos os governos. Nem a condição de primo de Ivan me animava a frequentar essas rodas. Na casa de Nathan me sentia à vontade, mesmo quando havia críticas ao governo. Ali, percebia o contraste com o meio palaciano, onde era usual escorrer de lábios fios de baba.
Os frequentadores do terraço de Nathan não podiam avaliar o significado para mim desses encontros semanais. Não conhecia bem a capital. A maior parte de meus trinta e poucos anos, eu vivera no Ceará, na Bahia e em Pernambuco. Naquele alpendre acanhado muito aprendi com Carlos Roberto de Oliveira, Gonzaga, Nathan, Martinho Moreira Franco, Agnaldo Almeida e outros que lá apareciam. José Nunes, penso, ainda procurava um terraço para Nathan, que o levasse à cidade de Arara…
Em 1978, as eleições dominaram os papos. Cadê a renovação do parlamento? Os nomes tinham cheiro de mofo, de gente do tempo da Casa do Estudante… em quem votar para deputado estadual? Gonzaga vazava sua angústia. Então, não consegui segurar o meu mutismo: eu sei. Silêncio. Atento silêncio. Falei bem alto: João Fernandes, um barbudinho do Cariri, completei, é o preferido no campus da UFPB. Entre estudantes corria solto seu nome. O terraço de Nathan ignorava aquela fermentação. Eu não. Revelei minhas fontes. Helena, minha esposa, cursava o mestrado e alguns sobrinhos, faziam graduações.
Pois bem, nesse ambiente nasceu meu livro Política nos currais, escrito em três meses. Salvo engano, o último da Editora Acauã, experiência editorial de Gonzaga, Nathan e Carlos Roberto. A capa foi da lavra de Tônio, a programação gráfica, de Milton Nóbrega e Fernando Melo fez a revisão.
O primeiro título lançado pela Acauã foi a reedição do, então, pouco conhecido depoimento de Álvaro de Carvalho, Nas vésperas da revolução, 70 dias na presidência do Estado da Paraíba, 2ª edição, 1978. Capa de Milton Nóbrega e programação gráfica de Gonzaga Rodrigues. Outros volumes circularam naquele mesmo ano: Notas do meu lugar, de Gonzaga Rodrigues, Historinhas de ninar, de Anco Márcio, Do centro para a margem, de Dom José Maria Pires, Exílio, de Abelardo Jurema, A coluna Prestes na Paraíba: os mártires de Piancó, do padre Manuel Otaviano, 2ª edição. Em 1979, além de Política nos Currais, foi editado o depoimento de Epitácio Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, João Pessoa: o sentido de uma vida e de uma época. Guardo-os com carinho. São irmãos de meu primeiro livro, que abriga generoso prefácio de 10 páginas, escrito pelo inesquecível baiano Rômulo Almeida. E mereceu longo ensaio crítico do professor José Octávio de Arruda Mello.
Por tudo isso, impossível esquecer o terraço de Nathan.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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