No terraço de Nathanael Alves
Por Francisco Frassales Cartaxo
Estudei em Cajazeiras até o curso ginasial. Na década de 1950 só havia, acima dos grupos escolares, o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, para formar professoras, o Ginásio Salesiano Padre Rolim e, em seus primeiros passos, a Escola Comercial. Por isso, quem tinha condições de prosseguir os estudos era obrigado a buscar o mundo. Este mundo era João Pessoa, Campina Grande, Recife, Crato e Fortaleza. A capital cearense era preferida por muitos sertanejos da Paraíba por causa da ligação direta pelos trilhos da Rede Viação Cearense – RVC, que, até 1958, só iam até Patos. Quando comecei a cursar o científico já existia uma linha de ônibus. De Cirilo. O ônibus de Cirilo, se dizia. Cajazeiras-Fortaleza. Semanal! Saia na madrugada do domingo, percorria estradas poeirentas, encurvadas e trepidantes o dia todo até a boca-da-noite! Um progresso gigantesco. Antes, era um pau-de-arara em jeito de ônibus, que pernoitava no Icó!
Em Fortaleza ingressei na Faculdade de Direito, depois me transferi para Salvador e lá morei sete anos. Fiz todo esse arrodeio para dizer que só fui conhecer a capital de meu estado em 1960. E assim mesmo de passagem, quando retornava a Fortaleza, de volta de Porto Alegre, onde participei de painel na programação de Semana Nacional de Estudos Jurídicos. Desci no Recife e tomei um ônibus para João Pessoa. Guardo dessa ida à capital paraibana, a lembrança muito viva do cicerone, Marcos Jácome, cajazeirense, que também cursara o ginásio em Cajazeiras. Impossível esquecer seu entusiasmo ao transitarmos pela avenida Epitácio Pessoa rumo a Tambaú:
– Frassales, esta é a mais extensa avenida do mundo, em linha reta, na direção do mar! Nem em Buenos Aires existe uma assim.
Só fui morar em João Pessoa, 15 anos após essa fantástica revelação, levado por Ivan Bichara, seis meses antes de sua posse, como governador. Fui coordenar equipe técnica encarregada de elaborar o plano de governo de Ivan. Época de descobertas imensas acerca da economia e da administração da Paraíba. E de muito trabalho e quase nenhuma diversão. Inesquecível foi o carnaval de 1975. Três dias no sossego da então bucólica avenida João Machado, num lindo casarão do começo do século XX, lendo, organizando e revisando página por página todas os capítulos da minuta do plano. Documento que, aliás, já tinha passado pelo crivo dos coordenadores de grupo, na estrutura formada para dar conta da primeira grande tarefa recebida de Ivan Bichara Sobreira, sobrinho do major Epifânio Sobreira. Ali, na tranquilidade solitária do casarão da João Machado eu conseguir dar retoques definitivos no Plano de Ação do Governo – PLANAG, o primeiro elaborado na Paraíba.
Puxa, não deu tempo de alcançar o terraço de Nathan! Mas chego lá.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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