Não foi um domingo qualquer
Por Francisco Frassales Cartaxo
Parecia um domingo comum nesta época de pandemia, o sol derramando-se na varanda e eu em exercício de respiração. Sentia no peito leve indisposição que, pensei, cessaria com seguidas entradas de ar no pulmão. As sete horas da manhã fui ao supermercado fazer a feira da semana, hábito de confinado, para fugir de aglomerações. O desconforto no tórax persistia, já agora, agravado pela máscara, e sentindo leve e inusitado cansaço, que já pintara muito suave em uma ou outra ocasião.
Ao voltar, estava sem ânimo de retirar as compras do carro. Avisei à mulher e lhe pedi para aferir minha pressão arterial. Deite-se, descanse um pouco, me recomendou, afeita a esses cuidados. Assim fiz. Se não me falha a memória, a pressão arterial subira a 21 por 9! Repetido o procedimento minutos depois pouco mudara. Melhor ir à emergência, disse Célia Maria, com a experiência de quem trabalho em hospital público há quase 30 anos.
Então, pedi a meu filho Denilson, que mora no meu bairro, para me levar ao Real Hospital Português, aonde costumo ir em hora de precisão. De bermuda e chinelo lá fomos nós, sem maiores preocupações, na certeza de estar em casa por volta de meio dia, para degustar um vinho português e a macarronada que a esposa prepararia na nossa ausência. Na emergência, após o ritual de narrativa dos sintomas e de exames apropriados, duas horas depois, a jovem plantonista, mostra-me um papelucho, e me fulmina:
– Senhor Francisco, suas taxas estão boas, menos uma enzima, que está muito elevada…o normal na sua idade seria em torno de 40 e está com mais de 2.500… O senhor vai direto para a UTI se preparar para um cateterismo…
Sequer escutei a frase final.
Quem me falou depois foi meu filho. Agarrei-me à palavra UTI! Doutora, pelo amor de Deus não faça isso comigo. Foi o que lhe disse, de chofre, sem mais nada ouvir, perturbado, sem pensar, morrendo de medo. Isto ocorreu no domingo, 11 de abril. Na segunda-feira, o cateterismo revelou obstruções em artérias importantes. Quarta-feira, dia 14 de abril, a equipe cirúrgica, chefiada pelo doutor Fernando Morais, durante mais duas horas, enxertou meu coração com três safenas e uma mamária. Dia seguinte, um dos médicos veio me dizer, entre risos, que: se depender de seu coração, o senhor vai viver ainda mais de 20 anos. Quero não, doutor, não desejo viver mais do que o padre Rolim.
Ele nada entendeu!
Dois dias após a cirurgia, 16 de abril, me levaram da UTI para o quarto. No dia 20 já estava em casa, confinado agora mais do que nunca, à espera da completa recuperação. Com muita paciência, subindo degrau por degrau, sem pressa. Lembrarei sempre daquele domingo de sol exuberante, em pleno inverno recifense. Em verdade, um domingo inesperado, muito diferente de um domingo qualquer na minha vida.
P S – Aproveito este espaço para gradecer a todos que rezam, oram e torcem pelo meu pleno restabelecimento.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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