Mundos de meninas e açude
Por Mariana Moreira – Os quero-quero trazem os sons e tons do dia que se inicia com a brisa da chuva caída na madrugada.
Voam em algazarra na direção da represa do Açude Grande ou talvez na busca de alguma touceira de baronesa ou aguapé onde, na tranquilidade do remanso das águas, pousem da jornada e construam ninhos e promessas de futuro.
E o canto dos quero-quero me leva em suas asas ligeiras para tempos outros. E mergulho em minha infância, vivendo, ou revivendo alguns finais de semana passados na casa da colega de escola Francinete de Neco Henrique, no Sítio Taboca de Joza Moreira.
Estudamos, por dois anos, no Grupo Escolar Lindalva Claudino. Tínhamos vínculos familiares, e/ou afetivos, uma vez que seu pai foi casado, em primeiras núpcias, com uma irmã de meu pai.
Mas, os sons e tons dos quero-quero me trazem imagens do açude de Joza Moreira, situado na beira da casa de Seu Neco Henrique e onde, a inocência das crianças inventavam folguedos, sonhavam mundos entre brilhos e lampejos da luz solar refletida em gotas e rajadas de água liberadas nos nados e braçadas.
E, nessas esporádicas visitas de fim de semana era o banho no Açude de Joza a atividade mais ansiada. Mesmo com as advertências maternas de não nadar e mergulhar nas grandes profundidades, preferindo sempre as partes mais rasas, a distância da vigilância materna aguçava o espírito de aventura e alimentava a ousadia em se atrever ir mais além, cumprindo desafios em saber quem era mais ágil na natação.
E como era imenso aquele açude, com suas águas escuras e longínquas. Tão diferente de nosso pequeno açude de Impueiras que, quando cheio, cruzávamos a nado em um curto tempo e, sempre, expunha seu leito ressequido nos meses quente de estiagem.
E como, em sua imensidão, aquele açude me fascinava, com suas águas sopradas pelos rasteiros ventos tangidos da Serra as Taboca, formando ondas e me remetendo a oceanos que só conheceria anos mais tarde.
E pensava: quais mundos misteriosos escondiam tuas profundidades e reentrâncias onde cresciam moitas e touceiras de árvores e capim.
Francinete, e vendo, agora, teu corpo inerte pela morte senti uma enorme saudade dos poucos mais marcantes fins de semana de nossa infância e me contagiou uma irremovível vontade de novamente mergulhar naquelas águas turvas e novamente ouvir os gritos e algazarras das meninas que, ao som dos quero-quero, somente, queriam ser meninas. E sonhar.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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