Moeda podre
Por Alexandre Costa – Causaram calafrios e perplexidade duas declarações do presidente Lula em sua recente visita à Argentina e ao Uruguai: retomar financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a países aliados do mesmo espectro ideológico e a criação de uma esdruxula moeda única para o Brasil e Argentina.
Atitude mais que Louvável e estratégica em reatar ligações com os nossos países vizinhos em plena era da desglobalização, deflagrada com o conflito na Ucrânia, que impôs ao planeta uma nova ordem mundial sinalizando a importância do fortalecimento das relações entre blocos econômicos regionais.
Óbvio que a visita do Lula ao presidente Alberto Hernández se revestiu primordialmente de caráter politico, contudo, o ponto alto do encontro que chamou atenção da mídia internacional especializada em temas econômicos e geopolíticos foi a pauta de relações bilaterais do mandatário brasileiro onde além endossar propósitos de fortalecer o Mercado Comum do Sul (Mercosul) formalizou o retorno do Brasil à Comunidade de Estados Latinos Americanos Caribenhos (Celac) manifestando ainda a intenção de recriar a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Ao defender e estimular as relações bilaterais com os nossos vizinhos, Lula encarnava a figura de um verdadeiro “estadista do Cone sul”, um perfeito embaixador do Foro de São Paulo, construindo e desenvolvendo uma pauta politica impecável até quando degringolou de vez ao enveredar na pauta econômica anunciando a retomada de financiamentos pelo BNDES de grandes projetos internacionais a países aliados ideologicamente. Lula ignorou o recall de um passado ainda recente, mas ainda vivo na memória dos brasileiros, quando essa mesma instituição levou, em operações temerárias, um calote de R$ 5,0 bilhões da Venezuela, Moçambique e Cuba.
A era de financiamentos a grandes projetos já está de volta e estreia com a construção dos primeiros 500 quilômetros de um gasoduto argentino para exportar gás natural para o Brasil e países vizinhos. É mais uma vez dinheiro do contribuinte brasileiro financiando obras públicas internacionais em detrimento de projetos prioritários vitais para o nosso desenvolvimento. Não me surpreendeu a atitude do nosso presidente em bancar via o BNDES obras internacionais ele nunca negou isso e nem se importou com a série de calotes impostos ao banco.
Agora, essa ideia de criar uma moeda única entre Brasil e Argentina para transações comerciais e financeiras entre os dois países, desatrelando o dólar dessas operações, soou como uma manobra desastrada e ineficaz, uma tentativa desesperada para acudir a combalida economia argentina que fechou o ano com uma inflação de 94,8% (Brasil 5,7%) e com míseros US$ 5,6 bilhões de reservas internacionais (Brasil US$ 324,7 bilhões).
É consenso entre analistas econômicos internacionais que essa medida não prospera entre duas economias tão dispares. Trata-se de intricado jogo de cena politico onde o presidente brasileiro afaga seu colega Hernández na sua reeleição em outubro. O Brasil que se cuide, pois, se trata de uma grande roubada apostar numa moeda que já nasce podre.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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