Minhas lembranças de Ivan Bichara
Por José Antonio
Familiares de Ivan Bichara estiveram em Cajazeiras para receberem uma homenagem da cidade e da Academia Cajazeirense de Artes e Letras, neste dia 24 de maio, data do seu aniversário natalício, que se vivo estivesse faria 105 anos.
Em 1974, Ivan Bichara, eleito e proclamado governador da Paraíba, pela Assembléia Legislativa da Paraíba, a primeira cidade que visitou foi Cajazeiras, que se preparou para receber o filho ilustre. Monsenhor Vicente Freitas coordenou todos os trabalhos e o local escolhido para a recepção foi a Avenida Presidente João Pessoa, no pé da escadaria que dá acesso ao balde do Açude Grande. No trajeto percorrido pela caravana, entre o aeroporto Antonio Tomás até o palanque, o povo o ovacionou, vendo nele uma aura de esperança, de orgulho e fé na solução e execução das muitas obras que os cajazeirenses tanto sonhavam.
Na época eu exercia o mandato de vereador (1973/1977) e fui designado para falar em nome da cidade. Escrevi um longo discurso, mas infelizmente não o tenho encontrado entre os meus inúmeros alfarrábios. O governador Ernani Satyro, o prefeito Antonio Quirino de Moura e o Bispo Zacarias Rolim de Moura, dentre outras autoridades, aplaudiam também festivamente aquele momento ímpar vivido pelo povo de Cajazeiras.
A emoção de Ivan era visível, mas contida, não só pela multidão que o aplaudia, mas por está relembrando aquele cenário que foi palco da sua infância, da Rua Sete de Setembro (atual Avenida Presidente João Pessoa). Voltava à velha praça, onde nascera e seu pai, João Bichara, tinha o Cine Moderno e exercia atividades comercias. Quantas vezes, solitário, não caminhou por esta rua para ir assistir aulas no Colégio do Padre Rolim? Para subir ao balde do Açude por sua parede, já que na época a escadaria de cimento não existia? Para assistir a missa na Matriz? E naquele instante era carregado nos braços do povo, ao som dos foguetões que ecoavam por toda praça, talvez, tenha relembrado do pipocar dos tiros dos bacamartes do cangaceiro Sabino ao invadir Cajazeiras, em 1926. Era o coroamento de toda uma vida pública. Era-lhe restituída a praça dos seus primeiros encontros com a alma coletiva.
Todos aguardavam a fala do filho governador. Até as palmeiras ali existentes, que tremulavam ao vento, silenciaram. E Ivan falou com o “coração nas mãos” (como escreveu Deusdedit Leitão) para os corações de todos os cajazeirenses.
Durante o seu governo não havia dificuldades quando se tratava de um pedido de Cajazeiras, fato que demonstrava o seu grande e imenso amor à terra que lhe serviu de berço.
Enquanto governador, sempre voltou, uma, duas, várias vezes, com as mãos cheias de obras e de serviços, mas com o coração apertado por não ter condições de dar mais. Instalou o governo em Cajazeiras, tendo como sede o Palácio do Bispo e as suas inúmeras ações fizeram com que Cajazeiras se consolidasse como líder do Alto Sertão, principalmente quando a transformou em sede da Nona Região Estadual. A cada obra era uma declaração de amor ao seu amado torrão.
Outra forte lembrança que tenho de Ivan foi quando do Centenário da elevação da Vila de Cajazeiras à categoria de cidade, comemorada em 10 de julho de 1976, em Sessão Solene da Câmara Municipal de Cajazeiras, realizada no Cine Teatro Apollo II e presidida por mim, na qualidade de Presidente do Poder Legislativo Municipal.
Nesta ocasião receberam títulos de cidadania cajazeirense, o Engenheiro José Carlos Dias de Freitas e Edísio Souto, responsável pela instalação do Banco do Estado além de uma homenagem ao seu pai, João Bichara, casado com a cajazeirense Hermenegilda Sobreira.
O discurso de Ivan, visivelmente emocionado, relembrando a figura de seu pai, das suas lutas e de sua paternidade calou profundamente no coração de cada um dos presentes, além de exaltar mais uma vez o seu grande amor por Cajazeiras.
(Prólogo do Carcará)
“Depois de peneirar, um instante, no azul,
desceu como uma flecha, as asas meio fechadas,
até o ponto de visar a caça escolhida,
e precisar o bote.
A serpente ainda ensaiou uma volta, tentando
defender-se, mas as garras de aço a
imobilizaram, e as unhas, recurvadas e fortes,
completaram o golpe certeiro, esmagando-lhe a cabeça.
Rápido, levando a presa, alçou vôo na direção
da grande árvore solitária. Construíra,
ali, seu ninho desajeitado, disforme, com
gravetos e restos de raízes úmidas da beira
do rio seco, distante o mais possível da passagem
habitual do homem. Seu pior inimigo era
este, com sua língua de fogo, longa,
ligeira e traiçoeira.
Para viver, era preciso caçar. Sentia prazer
no momento do ataque, na surpresa, no medo
da vítima e, principalmente, no gosto de
sangue que lhe molhava o bico e as ventas
No ato de matar. Era seu destino.” (*)
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário