Médicos Brasileiros e Humanos
Em uma de suas tiradas, o hilário José Simão, da Folha de São Paulo, afirmou que “se eu estivesse doente no interior do interior do Ceará, eu queria um médico humano. Tanto faz paulistano, cubano ou marciano”. Acho que ele se referiu a Quixadá, onde atualmente trabalho e resido, mas isto é o de menos, pois o problema é geral.
Sou solidário ao movimento dos médicos em favor da prática da medicina pelos nacionais, ou por quem tenha revalidado seu diploma obtido em outros países. Trata-se de respeito por quem optou ficar aqui, mesmo, em alguns casos, tendo condições de ir para outros lugares de renome.
Nossas faculdades, apesar do descalabro com que é tratada a educação superior neste país, são excelentes e formadoras de profissionais de primeira linha. A valorização do médico brasileiro, portanto, é, para mim, uma questão de respeito. Contudo, necessário se faz que este profissional conheça e cumpra com perfeição o seu papel.
Quando falo em “perfeição”, refiro-me, sim, ao profundo conhecimento que deve ter da sua área, identificando problemas e apontando soluções com maestria, seja nos grandes, seja nos pequenos centros. Mas, por perfeição, refiro-me, ainda, à educação, ao respeito, à forma como o paciente é atendido, em síntese, à humanidade do médico e à humanização de sua conduta profissional.
Pessoalmente, já fui “atendido” na rede pública (sim, aqui, no “interior do interior do Ceará”) por um médico que sequer ouviu minha história, pois estava, na hora da consulta, muito mais interessado na leitura de seu livro do que em mim. Mas, ao saber que era professor e advogado, ele fechou o livro e me deu atenção. Ao perceber a mudança de suas “feições” e de seu “interesse” pelo paciente, levantei-me e, com a educação e o respeito que ele não teve para comigo, pedi desculpas, me retirei do consultório e fui embora, cuidar da minha saúde em casa mesmo.
Por que fui bem tratado somente quando lhe disse a minha profissão? Por que, por aquele médico, não fui bem tratado por pagar em dia os meus tributos e, portanto, ser quem lhe paga o salário? De que forma tratou os outros pacientes que vinham na fila e que eram desempregados, analfabetos, que estavam bêbados, ou que, por não serem “letrado”, estavam “tremendo de medo” de conversar com o “doutor”?
Nossos médicos brasileiros precisam ter mais educação, ser mais humanos, precisam aprender a respeitar quem lhe chega pedindo ajuda e socorro. As exceções, que graças a Deus não são raras, mas abundantes, existem e precisam se afirmar diante dos que, segundo alguns, se acham “semi-deuses” ou, na concepção de quem é mal-tratado, “cavalos batizados”, a denegrir a imagem de tão importante e respeitável classe profissional.
Bem verdade que a estrutura de saúde brasileira não é das melhoras, mas, igualmente, a de educação, jurídica, política, econômica et caetera. Todos os profissionais enfrentamos as nossas dificuldades, mas isso não nos confere a prerrogativa de destratar quem quer que seja. Afinal, todos, em nossas colações de grau, fizemos um juramento de servir… ou esquecemos disso?
Concluo reiterando minha opinião de que a medicina no Brasil deve ser exercida por brasileiros (ou por quem tenha comprovado proficiência por meio de exame específico nesta área do saber), entendo igualmente que os médicos, como qualquer servidor público, seja ele “paulistano, cubano ou marciano”, devem ser mais humanos no trato com a população.
Salvo melhor juízo.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário