Medicina é para humanos
Há limites para tudo. Também para a prepotência e a arrogância.
Minha posição a respeito da vinda de médicos estrangeiros para o Brasil era bem definida: médicos brasileiros e humanos. Escrevi até um artigo sobre isso.
Dizia, naquela ocasião, que a medicina, na nossa Pátria (palavra esquecida, não é mesmo?) deve ser exercida por brasileiros. Porém, indispensável que nossos compatriotas sejam um pouco mais sensíveis para com os que lhes pedem ajuda. Casos há em que o médico, na rede pública de saúde, por exemplo, sequer olha para o rosto do sujeito, ou o ouve, quando não o trata com modos cavalares.
Medicina para os nacionais. Mas, desde que sejam humanos. Se não são capazes disso, que “saiam da frente” e desocupem o espaço para os que querem trabalhar (curioso é que os que chegam vão para lugares não ocupados – os sertões e as matas desse País imenso, rejeitados pelos nossos).
Ora, é que, se os patrícios não atendem ao chamamento do Governo Federal – e olhe que R$ 10.000,00 é um salário muito bom para um iniciante!!! – que venham os formados em Cuba, em Portugal ou em qualquer outro país, desde que formados. Porque toda essa, repito as palavras da primeira linha, prepotência e arrogância?
Porque, segundo a “orientação” do Dr. João Batista Gomes Soares, presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, os médicos brasileiros não deverão socorrer os médicos cubanos que tiverem alguma dúvida ou mesmo errarem? Ou errar não é humano? Isso é ou não é arrogância, prepotência? E, na mesma linha de raciocínio, se os “importados” fossem norte-americanos, ou canadenses, a orientação seria a mesma? (confira mais em http://noticias.terra.com.br/educacao/presidente-do-crm-mg-vou-orientar-a-nao-socorrer-erros-de-cubanos,81b2bbe756ca0410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html).
Isso já está parecendo “birra” de “moleque marrento”, que não empresta a bola para o colega de escola.
Desde já esclareço que nunca simpatizei Guevara e sou firme combatente do comunismo e de suas mazelas, particularmente o ateísmo militante, bem como do modelo que se instalou na “ilha da fantasia”. Contudo, mudei de opinião a respeito da vinda de médicos estrangeiros ao ler a declaração de um cubano, segundo o qual “nós somos médicos por vocação, não por dinheiro, não nos interessa o salário, fazemos o trabalho por amor” (veja em http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2013/08/nao-interessa-o-salario-trabalhamos-por-amor-diz-medico-cubano-em-pe.html).
É possível sim, sem passar necessidade, trabalhar por amor, exercer uma profissão por vocação. Quando não se faz desse jeito, o trabalho se transforma em um verdadeiro inferno e felicidade é a última coisa que se vê num profissional “azedo”. Como diz um grande amigo “não corra atrás do dinheiro, que ele corre atrás de você”.
Pressenti o diferencial dos cubanos. Não que os brasileiros não sejam médicos por vocação (não afirmei isso), mas é que, ao que parece, se trabalha, sim, visando, em primeiro lugar, a “mamona” (referência bíblica ao dinheiro que, aqui nesse mundo, murcha, acaba e não rende para a eternidade). E não são somente os médicos…
Se eu não concordo com o modelo cubano, eles concordam, ora. E, diante disso, só me resta enrolar minha bandeira oposicionista, diante de um dos princípios que regem o Direito Público Internacional, a autodeterminação dos povos.
Como será feito o “pagamento” dos salários desses médicos é outra questão que, ao meu ver, interessa, também, à Organização Internacional do Trabalho. Se algum vai fugir ou pedir asilo político, também é outra questão.
A mim interessa, ah, isto sim, a grandeza de alma destes homens e mulheres, que, pensando muito mais no ser humano que sofre, vêm e vêm com determinação e ousadia, quem sabe para humanizar nossas academias médicas, nossas elites hospitalares e colocar em “xeque” a prepotência e a arrogância de alguns que se sentem a “última Coca-Cola do deserto”, por vestirem um jaleco branco.
Medicina é para humanos.
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