Marcos de tempos?
Por Mariana Moreira – Qual o tempo para se reconhecer que foram os povos indígenas os primeiros habitantes desta terra?
Os povos originários aqui estão quando os brancos invasores aportam por essas bandas.
E aqui usurpam árvores, surrupiam minérios e metais preciosos, fazem reluzir o ouro e a prata lavados com o sangue, o suor e a dor dos índios escravizados, das aldeias destruídas, das índias estupradas.
Muitos, aprisionados e amontoados em porões de caravelas, se transformam em objetos da curiosidade e da galhofa nos suntuosos salões dos palácios europeus dos nobres da realeza cristã.
Por aqui, o avanço da “civilização” se faz com religiosos exercendo a “salvadora” missão de dotar “selvagens e inumanos” em “servos dóceis e obedientes aos ensinamentos do Deus único”. E, pela forçada conversão, ganham “alma” e elevam-se a condição de gente.
E o processo continua inexorável e devastador. O estampido das armas de fogo que os brancos descobrem como poderosa ferramenta para seduzir e ludibriar os índios se faz eficiência na arte de dominar. Estes atribuem o barulho a uma manifestação e expressão da presença do Deus Trovão. E, assim, crentes na presença divina partilham com o branco as dádivas da natureza somente como gesto de gratidão.
E a sedução prossegue com o brilho enigmático dos pequenos espelhos que refletem imagens nunca antes vistas e assumem, para os originários, a dimensão de artefatos mágicos e poderosos. E as bugigangas vão se convertendo em poderosa moeda de barganha do ouro, da prata, do pau brasil, do trabalho escravo.
Séculos são transcorridos e as estratégias de sedução e usurpação dos povos originários vão ganhando novas configurações ao sabor dos interesses políticos e econômicos dos invasores que, descaradamente, assumem a condição de titulares com o arranjo de leis, regulamentos, programas. “Integrar para não entregar”, “a Amazônia é nossa” e tantos outros slogans e fanfarrices que, multiplicando-se e reverberando em propagandas oficiais mascaram a expansão do agronegócio, com sua nociva monocultura e seus necessários complementos de motosserras, herbicidas, defensivos, adubos químicos que destroem vegetação, contaminam solos e águas, adoecem pessoas e animais.
E agora, trazem a novidade do marco temporal. Os povos originários não tem origem, ou se a tem, deve ser aquela estabelecida em um documento legal que define um intervalo de tempo, sem nenhuma vinculação histórica, como a certidão de sua existência e o reconhecimento do direito de habitar um território. Existência e território que já trazem as marcas dos estampidos das armas de fogo e dos reflexos dos sedutores espelhos que ludibriaram os antepassados e, agora, com novos contornos, punem os que, remanescentes, teimam em mostrar sua existência.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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