Lula livre! E agora?
Lula está solto. Condenado, mas solto. Com extraordinária facilidade de comunicar-se com a população, voltou o Lula de sempre. As primeiras falas foram dirigidas à militância. Um desabafo e um recado. O desabafo aliviou seu coração do peso dos 580 dias na PF, por isso, mirou os responsáveis diretos pela sua prisão, citou os dois nomes mais conhecidos, Sérgio Moro e Dallagnol. Repare, sem agressão institucional à Justiça e ao Ministério Público. O recado, porém, foi a todos, via ataques a Jair Bolsonaro, a outra ponta do polo. Reforçou a polarização. Foi isso que Lula fez quando aplicou adjetivos, aliás, muito usados pela notória indigência do presidente da República. No meu entender, Lula errou quando colocou na alça de mira o sistema Globo de comunicação. Até aqui, o Lula para a militância.
Mas, daqui para a frente?
Sendo ou não candidato, a história é outra. Desconfio que o sucesso de Lula, na execução da estratégia polarizadora, depende muito dele não persistir no uso de adjetivos lançados ao adversário. Os adjetivos caiem no vazio. Só servem para instigar a militância, mas são pouco eficazes para reduzir sua elevada rejeição. Além de descer ao patamar de Bolsonaro.
Lembro agora lições de Miguel Arraes.
Se vivo fosse, seguramente, Arraes diria a Lula, não é por aí, esse é o caminho da perdição. Entre um pigarro e outro, Arraes aconselharia: deixe de lado os adjetivos, agarre-se ao substantivo de seus governos, ao que você fez pelo povo. Quem sente o benefício direto, Lula, não esquece nunca. Fale da alegria estampada no sorriso, de poucos dentes, do morador da periferia pobre no dia que recebe o bolsa-família, o suficiente para tomar café, almoçar e jantar, sem a humilhação de pedir esmola. Não esqueça dos milhões de pobres, moradores de distantes fazendas, engenhos e sítios que viam os filhos morrerem por falta de uma simples cisterna para beber água o ano todo.
Lembre ao Brasil inteiro, a festa que as famílias pobres fazem para comemorar a graduação do primeiro filho, depois de gerações e gerações de sonhos! Diga aos incrédulos que os sertões brasileiros estão cheios de faculdades com jovens e adultos em salas de aula, tendo oportunidade de fazer um curso superior. Nunca antes neste País… Vá em frente, grite que a filha da doméstica, o irmão do flanelinha, o filho do trabalhador da roça do pé de serra, nos confins do mundo, ou do sem-terra à beira da rodovia, ou a prima do catador de lixo tem o mesmo direito de aprender numa faculdade em que estuda o neto do fazendeiro, do deputado ou do banqueiro, filhos dessa elite pretensiosa, egoísta, arrogante! Fale, Lula, dos milhões de brasileiros que saíram da miséria e dos outros tantos que entraram no mercado de consumo, fazendo a alegria de todos, desde o vendedor de picolé ao banqueiro! Explique que isso ajudou, no plano macroeconômico, a elevar os índices de crescimento da economia. E reduzir as desigualdades sociais!
Diga mais uma coisa. No instante em que o capitão-presidente beija Donald Trump, (que vergonha!) é hora de recordar, Lula, que você enxotou daqui o FMI, e tratou de igual para igual… Não, Lula, não diga nada… deixe que Barak Obama fale!
E a corrupção?
Frei Beto ensinou Lula a ler a Bíblia. Não negue nem bata no peito. Mostre o que a prisão de Curitiba lhe trouxe. Então, disse Lula a seus raivosos perguntadores: quem se achar puro e cercado de inocentes, atire a primeira pedra.
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