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Francisco Cartaxo

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Lula e o Nordeste

06/03/2020 às 10h17

Ex-presidente, Lula (Foto: Reprodução)

Afirmei neste espaço que o presidente Lula prometeu recriar Sudene como um órgão poderoso. Falhou. Apenas a recriou, sem lhe dar os meios legais capazes de mudar os rumos do desenvolvimento do Nordeste. Rendeu-se ao clientelismo. Recordo essa história com a segurança de ter participado do Grupo de Trabalho instituído, em 2003, no início do primeiro governo Lula. Comandada pela economista Tania Bacelar, a equipe técnica deveria propor novo formato para Sudene, dado o esgotamento do modelo até então adotado. Após meses de estudo, reuniões e audiências públicas em diversos locais, dentro e fora do Nordeste, o GT ofereceu sugestão objetiva para uma nova Sudene. Em essência, ela teria estas características fundamentais: a) ser um órgão enxuto, focado no planejamento e na coordenação; e, b) ter o controle de um Fundo, alimentado por recursos públicos significativos e estáveis. O primeiro ponto implicava em total redefinição do papel da antiga Sudene. A nova Sudene seria forte no acompanhamento da realidade regional e comandaria as ações planejadas no território nordestino. Para isso, precisaria dispor de recursos sólidos, de origem constitucional, suficientes para impulsionar o crescimento nordestino e reduzir os desníveis inter-regionais.

Aqui Lula recuou.

Apesar do apoio da sociedade civil, a ideia do Fundo motivou a reação silenciosa de influentes grupos políticos do Nordeste. Reação articulada pelos governadores recém-eleitos em 2002, pelo temor da transferência para a Sudene de fatias consideráveis do poder político. Ora, argumentavam, é melhor distribuir esses recursos entre os estados. A Casa Civil de Lula foi aliada valiosa nessa empreitada. Resultado: criou-se uma Sudene sem recursos livres, frágil que nem bananeira situada numa encosta…

Então Lula foi um desastre para o Nordeste?

Muito ao contrário. Alinho a seguir algumas ações, de caráter geral, que tiveram no Nordeste grande repercussão econômica e social. a) Restauração das rodovias, transformadas em crateras na gestão Fernando Henrique, ficando quase intransitáveis. Lula duplicou, entre muitos trechos, cerca de 400 km da BR 101, de Alagoas a Natal, aliás, com a participação direta e efetiva do Exército. b) Os programas de transferência social de renda, propiciaram visível aumento do poder aquisitivo das camadas mais pobres, em especial o Bolsa Família, instituído em 2003 mediante a reunião de outros programas criados por FHC. c) Na área da educação, basta citar a ampliação de mecanismos de apoio ao ensino superior e técnico, que facilitaram o acesso de estudantes pobres à universidade.

Menciono isto como meros exemplos de ações de abrangência nacional, que tiveram enorme repercussão social e econômica no Nordeste. Essas ações dos governos Lula/Dilma foram tão efetivas para o desenvolvimento do Nordeste quanto está sendo a transposição das águas do Rio São Francisco. Efetivas na contribuição para reduzir as disparidades sociais e regionais de renda. Lamentável é que a turbulência causada no Brasil, à época do impeachment de Dilma, tenha atrasado mais ainda seu término. Mesmo assim, Bolsonaro a recebeu faltando investir tão somente irrisórios de 3% para a conclusão da gigantesca e reclamada obra. E ainda não terminou!

Apesar da frustração inicial, quanto à recriação da Sudene, o desempenho dos governos de Lula propiciou ao Nordeste uma das mais proveitosas quadras de seu desenvolvimento, ensejando redução na brutal desigualdade da sociedade brasileira.

Membro efetivo da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
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