Lula e a emoção do voto
Após a condenação de Lula pelo TRF, de Porto Alegre, as redes virtuais se encheram de loas e xingamentos. Predominaram agressões sórdidas de lado a lado. Nada que contribuísse para esclarecer aspectos jurídicos do processo ou melhorar o debate político. Uma lástima que, aliás, já vinha de longe. Baixaria da pior espécie tanto de partidários de Lula como de gente contrária ao PT. Bem sei que é impossível esperar conduta racional em momentos de excitação generalizada, à moda disputa de futebol. Mas existe uma diferença fundamental: na arena esportiva os efeitos mais dramáticos chegam à delegacia, ao hospital ou, por lamentável infortúnio, ao IML. Na política, não. As consequências podem ser duradouras e atingir milhões de brasileiros.
A emoção é inerente ao ser humano.
Tanto é que já nascemos com propensão a ter medo, raiva, alegria ou tristeza. Depois, o leque se abre. Ela mexe muito com as pessoas. Impossível viver sem reações emocionais aos estímulos recebidos a cada momento, sob signo do amor, por exemplo, com o tempero da paixão derramando-se no gozo ou em desditas da vida. A emoção não exagerada é normal, aceitável até pelas leis penais como circunstância atenuante para determinados atos praticados sob forte emoção.
Mas emoção excessiva cega.
Desvirtua a capacidade de enxergar as coisas como elas são. Deturpa a visão. Isso a gente constata todos os dias nas redes sociais. Cidadãos inteligentes, às vezes com formação escolar plasmada na vivência acadêmica, se transformam em marionete a repetir asneiras, cegos pelo domínio doentio da emoção. Em assuntos políticos, então, é um Deus nos acuda! A internet tem sido, na prática, elemento de desserviço à democracia. Quanta intolerância! Não há respeito às ideias contrárias. Ali o que mais circula são desabafos individuais, egoístas, idiotas, que, muitas vezes, escondem interesses subalternos. Esse poderoso instrumento de comunicação serve mais para iradas agressões, dissociadas da realidade, e menos à busca do interesse coletivo.
Pior, nem sempre circulam ideias.
E quando surge alguma opinião séria acerca de questões importantes, o partidário apaixonado mal lê o que se posta, embora curta e compartilhe o texto. As redes sociais abrigam barbarismos. Exemplo? A decisão do dia 24, tomada em Porto Alegre, foi saudada com insultos chulos. Impublicáveis. Chavões e expressões de baixo calão em lugar de argumentos racionais. A conduta de muitos internautas no decorrer do processo judicial, gerador da condenação de Lula na segunda instância, é exemplo notável do que trato aqui. Deu margem a um amontoado de erros a partir do instante em que o juiz Sérgio Moro foi eleito o inimigo número um do PT e de Lula. Essa tática burra sobrou também para os membros do Tribunal Regional Federal e poderá estender-se aos tribunais de Brasília, de tal modo que o equívoco chegará ao ponto de demonizar o poder judiciário. Dessa forma, deixa-se de enxergar o novo papel exercido pela Justiça no combate à corrupção em benefício da ética na política. Aliás, desempenho aplaudido, corretamente, pela maioria da população brasileira.
E quando Lula for preso?
Pela amostra de agressividade prevalecente até agora, imagino como será a campanha, carregada de fortes emoções e intolerância tendentes a descambar para caso de polícia. Logo nesta eleição, na qual aparece um magote de político ladrão, aboletado no parlamento, com medo de perder o foro privilegiado, as chamadas prerrogativas do cargo. Medo de descerem à primeira instância e serem presos, como os Geddel, os Pedro Correa, os Sérgio Cabral da política brasileira.
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