Lembranças de Hildebrando Assis
Hildebrando de Assis é patrono da Academia Cajazeirense de Artes e Letras, cadeira nº 20, ocupada pelo jornalista Gutemberg Cardoso. Domingo, dia 7, ele faria 100 anos. Ambos, patrono e acadêmico, são bacharéis em Direito, e não nasceram em Cajazeiras. São cajazeirados. O patrono é de São José de Piranhas e Gutemberg é carioca, mas se vincularam à nossa terra desde a infância, onde plasmaram sua formação. Hildebrando aqui começou seus estudos e exerceu sua profissão, fez-se político, até assumiu a prefeitura, recebeu o apoio necessário para eleger-se deputado estadual constituinte, em 1947, ao lado de dois outros cajazeirenses ilustres, João Jurema e Ivan Bichara Sobreira.
Não pretendo biografar Hildebrando Assis. Quero tão somente recordar duas situações que firmaram sua imagem na minha mente. A primeira é muito difusa, mas me ajudou a enxergar a natureza de sua atuação e de seus atos. Falo dos pendores artísticos daquele jovem advogado, entusiasta de um mundo encantado, que envolveu a elite cajazeirense, no meado do século XX. Filho de poeta, fui criado entre fluidos da grandeza das letras. Nesse clima, a arte cénica despertava meu interesse infante pelas conversas dos adultos, ao enaltecerem o jovem idealista, que movimentava a cidade com suas iniciativas pouco ortodoxa para um advogado e político. Foi assim que o nome de Hildebrando se insinuou no meu imaginário. Um cidadão das artes dramáticas, numa época em que peça teatral era um drama, encenado nos palcos do colégio das freiras e do colégio dos padres. E no Cine Éden.
Anos depois, eu já rapaz com penugem abaixo do nariz, me aproximei de Hildebrando, então, presidente do Cajazeiras Tênis Clube. Para quê? Queria entrevistá-lo num programa da Difusora Rádio Cajazeiras – DRC. Invenção de José Adegildes Bastos e deste cronista, na época, irrequieto menino-quase rapaz, aluno do Ginásio Salesiano Padre Rolim. A DRC era então mero serviço de alto-falantes, com estúdio no 1º andar da firma Carvalho & Dutra.
Que programa era esse?
Uma vez por semana. No jornal da diocese, Correio do Sertão, de julho de 1955, José Leopoldo assim começa crônica, intitulada “Fogos de bateria”: Em o programa Uma vez por semana, obedecendo as solicitações de muitos jovens… Nem de longe, Uma vez por semana parecia com o Boca Quente. Ia ao ar domingo à noite, com singelo formato: notícias locais, crônicas, comentários políticos, leves críticas à prefeitura, uma ousadia no tempo áureo de Otacílio Jurema. A grande atração, porém, era a entrevista com personagem de destaque em Cajazeiras.
Hildebrando Assis foi um deles.
Aqui narro inesquecível gafe do entrevistador. Ao apresentar Hildebrando, eu falei de sua brilhante carreira política, tendo passado por vários partidos políticos. Pense numa mancada! No tempo do PSD e da UDN, ao contrário de nossos dias, mudar de partido era pecado mortal! Ter pertencido a “vários partidos” como credencial positiva foi coisa de neófito! E por cima não era verdade! Hildebrando, com elegância de fidalgo, contornou o problema. A entrevista foi um sucesso, mas a gafe está pregada na memória até hoje.
Anos depois, eu morava em João Pessoa, no governo de Ivan Bichara, Hildebrando e eu, entre risadas, relembramos aquele episódio. Uma forma de reviver o passado em Cajazeiras, cidade que tanto amamos, os dois, cada um de seu jeito. E não tocamos em divergências acerca da memória da terra do padre Rolim.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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