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Mariana Moreira

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Lembranças da RAP

02/03/2024 às 12h08

Prédio da Rádio Alto Piranhas. (Foto: divulgação).

Por Mariana Moreira – As imagens povoam a cabeça e me deslocam para um outro tempo. Rádio Alto Piranhas, início da década de 1980. Meu primeiro emprego, após terminar o Curso de Comunicação Social. A cabeça cheia de planos e tantas e efêmeras convicções de que o mundo seria transformado com nossas revolucionárias ideias. A certeza de que faria, com as palavras, uma poderosa arma para mudar o mundo, transformar consciências, redimensionar práticas e costumes e erradicar todos os males sociais que, inocentemente, se resumiam as nossas vontades e desejos.

A Rádio funcionava no prédio do Cine Apolo XI. A redação ficava no primeiro andar onde algumas velhas máquinas de escrever Olivetti e Remington serviam como suporte para a produção de noticiários. Ao lado da Rádio, no mesmo prédio, a precária lanchonete de seu Chico servia fatias de bolo endurecidas pelos muitos dias de fabricados e pela baixa frequência de consumo. No corredor, após a portaria, o relógio de ponto cobrando nossa assiduidade. Não raras vezes, alguns controlistas, que a modernidade chama de operadores de áudio, davam uns solavancos no velho relógio que passava algumas semanas parado, para nosso deleite e real possibilidade de atrasar alguns minutos.

A discoteca, dominada por lps, ou seja, os velhos bolachões de vinil, também funcionava no primeiro andar, na direção oposta a redação e sobre o estúdio. Aí passava parte do tempo livre permitido pela redação ouvindo as músicas que Dalvirene Pinheiro selecionava para a grade de programação cultural da emissora. Músicas que eram definidas a partir das opções estabelecidas pelos apresentadores dos programas, ou pelo gosto musical dos ouvintes, expresso em cartas ou através de telefonemas. Tudo datilografado no roteiro que orientava a pilha de discos que, a cada programa, eram descidos para o estúdio e habilmente manuseados pelos controlistas.

Foi nesse ambiente que comecei minha vida profissional. Introduzida na redação da RAP recebi a incumbência de redigir notícias que eram captadas de rádio escuta ou trazidas a redação pelos nossos repórteres de rua que, munidos de gravadores e blocos de papel, percorriam delegacias, hospitais e outras fontes de notícia como prefeitura, representações de órgãos públicos. Tudo tinha que ser redigido, nada chegava pronto como hoje percebemos em nossas emissoras de rádio, onde o clique do computador permite o acesso a praticamente tudo.

Todas essas lembranças me voltam a memória quando, de repente, me chegam sons de rádios escutados em algum canto da rua. E a redação da RAP com suas máquinas Remington, de fita vermelha e preta e gastos teclados reveladores do tempo, onde comecei minha trajetória profissional, me traz o sentimento de tempo e vivências. Ou seja, parte de um trecho da minha história.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.


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Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

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