Lembrança de dom José González Alonso
Francisco Frassales Cartaxo
Dom José González Alonso foi durante mais de dez anos bispo da diocese de Cajazeiras. Mesmo tendo nascido em terra longínqua, no além-mar, integrou-se muito bem à sociedade sertaneja, embora conserve o sotaque de estrangeiro. Neste domingo, toma posse o novo prelado, dom Francisco de Sales, sertanejo feito a gente, a quem desejo, desde já, profícua gestão episcopal.
Não sendo político, e muito menos partidário, dom José coordenou, em 16 de setembro de 2008, concorrido e proveitoso debate, no auditório da FAFIC, entre os dois candidatos a prefeito de Cajazeiras, Léo Abreu e Mário Messias-Marinho. Estimulado pelo significativo encontro, escrevi crônica para o jornal O Norte, de João Pessoa, que agora transcrevo.
O bispo e a eleição
Houve época em que bispos e padres envolviam-se em lutas políticas de tal modo que até criaram legendas para disputar eleições, como a Liga Eleitoral Católica (LEC). Na ditadura recente, muitos cristãos se arriscaram na proteção de perseguidos, em defesa dos direitos humanos. Mas isso é assunto do passado. Quero falar do hoje. Guardadas as diferenças de método e escala, a ação pastoral adquire maior ou menor significado para a cidadania, a participação da comunidade nas decisões políticas. A esse respeito, o apoio à realização de debate entre candidatos a prefeito merece destaque, porque proporciona à comunidade um espaço democrático, suprapartidário, capaz de permitir o confronto necessário à avaliação correta das propostas de governo, do preparo e da desenvoltura dos postulantes.
Faço essas considerações sob o estímulo de evento ocorrido no dia 16, no Centro Pastoral da Diocese de Cajazeiras, o auditório superlotado, muita gente no pátio da FAFIC, e milhares de ouvintes sintonizados em uma das três emissoras de rádio que transmitiram o encontro político. Os dois candidatos a prefeito expuseram seus programas, em quatro blocos temáticos, após preleção a cargo de professores vinculados à ação da igreja. Houve aplausos e vaias, como é normal em clima de campanha acirrada, mas nada que extrapolasse os limites da convivência entre contrários.
O papel desempenhado pelo bispo dom José Gonzáles Alonso foi decisivo para a manutenção do nível elevado do debate, com realce para sua fala inicial. Ao ler e comentar Nota da CNBB, acerca das eleições, dom José abordou assuntos relevantes, como a responsabilidade que cabe a cada um e a todos nesta eleição. Citou pontos essenciais ao exercício da cidadania, a exemplo do processo de escolha dos candidatos, que deve privilegiar a audiência prévia à comunidade, condenou a compra e venda do voto. Quem vende é tão corrupto quanto quem compra. Novidade? Não. Já ouvimos isso muitas vezes. Mas escutar no calor do auditório, com a firmeza, a veemência com que dom José Alonso deu a sua voz, é momento para não esquecer jamais.
A nota dissonante foi a postura do atual prefeito de Cajazeiras, que se despiu de sua condição de autoridade civil mais importante do município e assumiu conduta de militante a instigar correligionários, até mesmo quando dom José pedia à plateia calma, paciência e tranquilidade. Ao próprio bispo coube, de modo discreto e educado, a tarefa de contê-lo. Não escrevo por ouvir dizer. Estava presente e próximo dos dois.
P S – O texto foi publicado na seção “espaço livre”, de O Norte, de 23 de setembro de 2008. O jornal, lamentavelmente, não mais existe.
Francisco Cartaxo Rolim
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