Jornal a serviço do candidato
Tempos atrás, quando não havia televisão nem emissoras de rádio nem sequer serviços de alto-falantes, a divulgação da plataforma dos candidatos era feita por meio de panfletos e jornais criados especificamente para isso. Não apenas isso, claro, nas páginas impressas os adversários recebiam as espinafrações costumeiras, denúncias de perseguições, travessuras políticas e pessoais, essas coisas sempre presentes em nossas disputas eleitorais. Assim, a cada eleição surgiam, nas capitais dos estados e cidades mais importantes, folhas temporárias, sobretudo, nos lugares onde não existiam jornais partidários, mantidos pelos adeptos de determinada agremiação política. Essa era a regra geral antigamente.
Cajazeiras não foi exceção. Na campanha para prefeito em 1935, por exemplo, o grupo que se reuniu em torno do empresário Joaquim Gonçalves de Matos Rolim fez circular um jornal a que deram o nome de A Hora. Lembre-se que naquele ano ocorreu a primeira eleição municipal através do voto direto e secreto, sob a égide da recém criada Justiça Eleitoral, uma das conquistas do liberalismo democrático pregado pelos revolucionários que fizeram de Getúlio Vargas presidente da República em 1930. Como registrei no meu livro Do Bico de Pena à Urna Eletrônica, o pleito municipal de 1935 selou, em Cajazeiras, a vitória de facção política comandada pelo coronel Matos que se tornara dissidente do grupo oligárquico dominante, controlado pelo coronel Sabino Rolim, de forma quase absoluta, desde o começo do século 20. De fato, em 1935, enfrentaram-se nas urnas duas legendas: Partido Popular Cajazeirense, cujo candidato a prefeito foi o próprio coronel Joaquim Matos, e a Legião Católica, que lançou o jovem médico, então residente em Campina Grande, Vital Cartaxo Rolim, filho do coronel Sabino.
O coronel Matos era um dos homens mais ricos do sertão, proprietário rural, dono da Usina Santa Cecília, uma das mais modernas fábricas de óleo e de beneficiamento de algodão da Paraíba. Desde o começo do século estava presente na política como vereador, vice-prefeito e preparava seu filho médico, Celso Matos, já eleito deputado estadual, para comandar a política local. Pois bem, para animar a campanha de 1935, foi lançado o jornal A Hora, um tabloide pequeno, de 4 páginas, que circulava duas vezes por semana, na quarta-feira e no domingo. A Hora era quase todo escrito pelo seu diretor, Cristiano Cartaxo, como recorda seu filho mais velho, Rafael Cartaxo, então pré-adolescente, que se encarregava de levar as tiras manuscritas a lápis para impressão na Tipografia Gonçalves. Colaboravam também, entre outros, Celso Matos, Laíres Sobreira Cartaxo, João Mendonça Júnior, Arcôncio Ararura e, talvez, Otacílio Jurema que foi candidato a vereador naquele ano.
Em minhas pesquisas, só consegui obter, até agora, dois exemplares dessa interessante fonte escrita da história política de Cajazeiras no imediato pós-30: os números 6 e 7, datados de 7 e 14 de agosto de 1935. A Hora teve vida curta. A eleição de prefeito e vereadores se deu no dia 9 de setembro daquele ano. Suponho que o jornalzinho deve ter circulado poucos meses, pois era comum à época esse tipo de publicação desaparecer após o pleito. O coronel Joaquim Matos foi eleito prefeito com quase o dobro dos votos do adversário, com o empurrão de leve do jornal A Hora…
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