Jaraguá na recepção a Lula
Lula ainda não era presidente. Já tentara sem sucesso mais de uma vez. Naquela época, o PT vestia a fantasia da pureza, mostrava-se diferente, fustigava a tudo, a todos e a todas. Verdadeira palmatória do mundo. O Nordeste, celeiro do governismo desde sempre, paraíso dos currais eleitorais, lhe era muito hostil. Lula precisava tornar-se conhecido, aprender com o saber matuto e ser amado no Brasil real. Como? Bolaram a caravana da cidadania, que percorreu o Brasil profundo, espantando o medo do sapo barbudo. A tática deu certo. Nesse tempo ocorreu o inusitado episódio que passo a narrar. Não presenciei as cenas descritas a seguir, portanto, corro o risco de cometer algum erro por falha da memória do meu informante.
Cajazeiras não estrara no roteiro da caravana. A direção municipal do PT deliberou, então, reunir um grupo de militantes para ir a Juazeiro do Norte abraçar Lula. E lá se foi a representação cajazeirense: Zé Maria Gurgel, Chico Ferreira, Mariana Moreira, Joaquim Alencar e outros petistas. Em Juazeiro, ficaram juntos para dar mais força ao pequeno núcleo de abnegados, um dos mais expressivos do PT na Paraíba. Em dado momento, Zé Maria afastou-se para ir ao banheiro. Satisfeita a necessidade fisiológica, deparou-se com um grupo de artistas a procura de alguém de boa altura para carregar o jaraguá.
– Companheiro, você pode quebrar esse galho?
– Mas é claro, para servir a Lula eu topo qualquer coisa.
Disse Zé Maria e, de imediato, entrou na fantasia do jaraguá, integrando-se à original homenagem ao grande líder, emigrado lá atrás para São Paulo num pau-de-arara. Enquanto isso, o grupo de militantes de Cajazeiras se inquietava com a ausência de Zé Maria. Foram-se chegando mais perto de Lula… cada vez mais perto… e nada de encontrar o companheiro que fora ao sanitário. Desconfiaram então do grandalhão que carregava o jaraguá. Será ele? Olharam-se. Até que alguém chamou a atenção para a lapa dos pés do cara do jaraguá… só pode ser Zé Maria… e com essa alpercata…
Era ele mesmo.
O professor José Maria Gurgel caiu na dança ritmada de nossa singular figura carnavalesca, com sua queixada enorme a mexer com os dentes, ao som da batida abra a boca, jaraguá, quá-quá-quá-quá, pega o menino, jaraguá, quá-quá-quá-quá.
Fundador do PT, Zé Maria foi o primeiro candidato do partido a prefeito de Cajazeiras, em 1982, quando o então recém instalado diretório municipal petista cabia num fusca. Semana passada em Cajazeiras, relembrei essa história ao protagonista. Zé Maria me confirmou, inclusive, que calça 44! E fez esta revelação, surpreendente para mim:
– O jaraguá pertencia a Rivelino Martins.
Desconfio que existe equívoco. Minha fonte não endossa tal versão e assegura que o atual vereador do PSB de Cajazeiras jamais formou bloco do jaraguá, apesar de anunciar mais de uma vez. Regressei ao Recife com essa dúvida. Mesmo assim, decidi escrever esta crônica. Afinal, a história do carnaval cajazeirense não pode esquecer a homenagem artística prestada a Lula, quando ele ainda lutava para chegar à presidência da República, encarnando o sonho e a esperança de milhões de brasileiros. Se depois Lula decepcionou uma parcela de nossa gente, condenado a 12 anos e um mês de prisão, prestes a entrar na cadeia… bem, aí é outra história. O jaraguá não tem nada a ver com isso!
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