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Cristina Moura

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Importante

06/05/2022 às 20h28

Coluna de Cristina Moura

Por Cristina Moura

Parece um desfile de moda, daqueles mais elegantes e badalados. Engraçado como se apresenta a nossa Língua Portuguesa, cheia de variações, regras e balangandãs. Isso a torna bela. Para uns, difícil de decifrar, de aprender. Não. Basta que haja uma aproximação verdadeira. E um respeito por tantos fenômenos que acontecem. Um adjetivo é capaz de reunir vários significados para situações diferentes e pode, ainda, transformar-se num substantivo.

Algumas vezes, entrevistei secretários de Saúde, tanto em âmbito estadual quanto municipal, e ouvi, com bastante ênfase, principalmente se a autoridade fosse médica, a palavra importante. Nesse caso, destinada a um dado substancial de alguma patologia ou problema. Importante. Fulano de Tal apresenta um quadro de infecção importante. As taxas de dengue cresceram naquela localidade, com números importantes. Vejo, diante desses exemplos, que somente na área da Saúde a palavra ganha esse aspecto, de algo ruim, assustador, pronto para alarmar.

É tudo engraçado e rico, ao mesmo tempo. Somos nós mesmos. A língua é a gente. Como mencionei outras vezes, é todo mundo. Somos nossa língua, em todos os sentidos. A língua é nosso espelho e nosso retrato, nosso tesouro, nossa corda e nossa caçamba. Uma simples palavra, importante, contém em sua carga um elemento forte, para o que queremos definir como considerável, essencial, necessário. Importante. Para algumas construções frasais, talvez a palavra essencial não sirva, e a palavra importante caiba melhor. Sinto que essencial se adapte mais com algo que seja único, ímpar, individual. Talvez a palavra fundamental também não sirva. Posso considerar algo importante, mas não fundamental. Mas o contrário se aplica muito bem. Vejamos: considero algo fundamental; somente em ser fundamental, imagino que seja importante. Pois é. São sinônimos, mas, como filhos gêmeos, apenas parecem iguais, e cada um apresenta sua habilidade.

Temos muito que agradecer aos povos que nesta nação habitaram, antes mesmo de sermos nação, e nos emprestaram tantas palavras, letras, termos, formas, estilos, símbolos. Nossa língua é importante para nove países que a utilizam como oficial, e para outras comunidades, em outros lugares. Falo do Português porque nasci e sou criada nele, mas em todo idioma há junções, aglutinações, vivências com outros. Isso é louvável, até certo ponto. Minha parte romântica diz que alguns responsáveis por essa mistura foram as imigrações, povos diversos que chegaram, com suas crenças e costumes. Minha parte racional alerta para os conflitos, que ainda ocorrem, tornando esses encontros passíveis de violência e arrastando uma infinidade de questões políticas não tão agradáveis de lembrar.

Quero não ter que encontrar esse ou aquele que se acha importante demais, a ponto de entrar em atrito com as opiniões dos outros. Cicrano se acha o importante. Que coisa chata. Conheço um monte e temo muito em esboçar algum comportamento que se encaixe nesse substantivo. Quero não. Prefiro ser importante das outras formas benéficas ou positivas do adjetivo. Mais arborizado. Mais confortável.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

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Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

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