Histórias que pulsam
Por Mariana Moreira
As instalações simples e acanhadas não expressam a relevância política do gesto. Apenso a capela da comunidade o museu acolhe um acervo variado e imprime vida a prateleiras e estantes que abrigam peças sacras, documentos impressos, trabalhos manuais de bordados, crochês, esculturas e entalhes.
Ora, mas muitos museus trazem essa diversidade em seus acervos!
Mas a expressão histórica, política, sociológica e antropológica do gesto está nos meandros do processo como ele foi e está sendo operacionalizado. Sem nenhum incentivo ou estímulo governamental, apenas com a inspiração solidária da igreja da comunidade que, em doações e partilhas de ajuda, constrói o prédio e, em celebrações e rituais, vai solidificando o cântico de que todos podem e devem ser os construtores do museu, pois a história é produzida e contada nas nossas ações cotidianas.
Assim, um documento esquecido no amarelado de uma pasta se faz história. Um antigo prato de porcelana que compôs, em tempos idos, o enxoval de um jovem casal em início de experiência familiar, traz contextos e respirares em pequenos arranhões cravados pelo tempo e pelo uso em refeições de mungunzá e prosas. Um rústico oratório com suas imagens de madeira, traduz a manifestação da fé em novenas, terços, preces de celebração de meses marianos, pedidos de socorro nos flagelos de secas e doenças, agradecimento pela vida em aniversários e bodas.
Outra marca de importância do museu é que ele será, com absoluta convicção, um espaço vivo para a aprendizagem da vida. Como espaço de estudo e pesquisa o museu, certamente, será integrado no currículo das escolas do município e da região. Alunos com seus celulares que traduzem a instantaneidade dos tempos presentes que, como vaticina Zygmunt Bauman, são “tempos de liquidez, fluidez e instabilidade”. Alunos que terão a dimensão que o comunicar-se humano, em épocas e contextos outros, fez-se e faz-se com caneta, papel, carimbos, selos, e não apenas em códigos cifrados de ligeiras mensagens virtuais. Compreenderão que a história se faz com peixeiras, cangalhas, terços, imagens sacras, moinhos, vasos e pratos, mas, também com computadores, celulares, naves espaciais e, porque não, pandemias. Entenderão, sobretudo, como o respirar de pulmões imprimem vida nestas peças preservadas em prateleiras e estantes.
E, embora tímido e acanhado em sua estrutura física, o Museu que a comunidade de Baixa Grande, no município de Cachoeira dos Índios, acaba de inaugurar representa uma ferramenta que dá vida a necessária ponte entre memória e história. E fazer-se vida, memória e história numa dimensão palpável que une ontem e hoje para indicar amanhãs como possibilidades nossas emerge como a vida do museu.
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