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José Anchieta

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Heróis Existem dos Dois Lados

11/05/2008 às 00h08

Um conselho a quem estuda ou não. Leia tudo o que estiver ao alcance de sua mão, mesmo que seja uma bula de remédio. A leitura não apenas estimula a nossa imaginação (exercitando o cérebro), como também abre a mente para novas perspectivas. Amplia nossa visão, se já somos familiares do conteúdo lido, ou introduz-nos num mundo talvez ainda desconhecido, envolvendo-nos de tal forma que não vemos o tempo passar. Gosto, de modo particular, dos textos indigestos, pois os encaro como um desafio, à maneira de Dom Quixote a enfrentar os gigantes que podem, após a leitura, transformar-se em meros moinhos de vento.

Evidentemente, os textos que nos atraem ou que nos comovem são mais fáceis de “devorar”. Não preciso dizer que já li “O Pequeno Príncipe”, de Antoin Saint Exupéry, umas quarenta vezes, para fazê-lo sabedor de que amo aquele livrinho. Está na cabeceira da minha cama, juntamente com a Sagrada Escritura e o meu Breviário. De tudo lá se encontra: a reflexão sobre a descoberta de novos mundos, de novas pessoas, o envolvimento que se constrói gradualmente com estes mundos e com estas pessoas, a reflexão sobre o amor, a responsabilidade que assume aquele que cativou alguém, etc.

Porém, não devemos entender por “leitura” apenas o gesto de correr os olhos por um texto escrito num livro ou num jornal. Pode-se fazer leitura a partir de um mundo que nos chega através outros meios, com a televisão, por exemplo. Tudo isso faz com que geremos em nós o famoso “senso crítico” que, perante tudo o que vivemos e presenciamos, deve funcionar e sem o qual somos meros espectadores (não construtores) da história.

Gosto das questões polêmicas (não que seja um polemista). Ultimamente, na televisão, um dos organismos judiciários começou a veicular propaganda de cunho emotivo-sentimental, afirmando que aquilo que temos hoje em nosso país (a democracia – mas será que a temos mesmo, no seu pleno significado?), é fruto do “martírio” de homens, considerados “heróis”. A propaganda, convidando os cidadãos ao sufrágio universal (o voto), começa com flagrantes (cenas) dos tempos do governo militar e com uma voz infantil narrando “heróis também existem”; entre tantas pessoas de bem, apresenta imagens de terroristas, de guerrilheiros, de subversivos e por aí vai. Desde a primeira vez que vi a propaganda, fiquei indignado, perplexo com o que via e admirado como um dos poderes constituídos se propõe a defender uma ideologia e a alimentar uma polêmica. Este talvez seja papel dos partidos políticos, das associações, dos movimentos sociais, não do poder judiciário.

Não podemos esquecer que “heróis existem” sim, e nem podemos esquecer que “heróis existem dos dois lados”. Embora filho de militar e convicto defensor do ideal patriótico (a defesa da Pátria – nome hoje em total desuso – e da sua soberania a custo da própria vida), não podemos ser ingênuos a ponto concordar que criminosos da década de 60 e 70 sejam considerados “heróis nacionais”. Isto é um absurdo! Estes e seus familiares, com todo o respeito, particularmente se sofreram algum dano físico ou moral, merecem todo o nosso apreço e indenizações na forma da lei; mas, e como ficam os heróis (estes sim, verdadeiros heróis) vestidos de verde-oliva e com fuzis nas mãos que foram mortos, ou mutilados pelas ações terroristas. Aqueles heróis também tinham família para criar, mas, “heroicamente” estavam colocando o dever como questão de honra.

Bastante curioso o fato de que os “pseudo-heróis” estarem hoje ocupando altos ou altíssimos cargos públicos (outrora foram guerrilheiros, terroristas, tiveram que fazer cirurgias para não serem presos, pois tinham cometido delitos) e recebendo invejáveis indenizações pecuniárias, enquanto que os verdadeiros heróis (os que escaparam da morte) ou seus familiares têm que se contentar com as esmolas que o Estado dá e se conformar com uma vida de completo anonimato.

“Heróis” não matam os outros envenenados com água de esgoto (técnica preferida de um covarde desertor do Exército Brasileiro que, pos-mortem, foi promovido a grau hierárquico superior e cujos familiares quase que conseguiram judicialmente gorda pensão vitalícia), nem vão aprender técnicas de guerrilha em Cuba. Não, heróis não fazem assim.

Heróis de verdade estão sempre a postos, particularmente quando o dever os chama, porque “Brasil, acima de tudo”.

Nossa irrestrita solidariedade ao Gal. de Exército, Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia, por criticar a ridícula política indigenista do governo federal. Este é um dos heróis que não moram na “ilha da fantasia” chamada Brasília, mas que conhece a realidade do país com seus próprios olhos.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Anchieta

José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

Contato: [email protected]

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José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

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