Há Vida Inteligente na Escola?
Por Carlos Gildemar Pontes
Creio que o título acima pode representar um devaneio, não obstante a barbárie que vem se alastrando nas sociedades pré e pós capitalistas, estas últimas, em claro processo de exaustão. São dois tipos de sociedades que estão no início e no limiar extremo da história da desumanização, cuja ordem filosófica, econômica e moral é regida pela acumulação do capital e pelo egoísmo das classes que se alteram no poder.
E a escola, nessa ordem falida da exploração do homem pelo homem, o que tem a oferecer? Que educadores e pensadores poderemos invocar para uma reflexão profunda neste momento histórico? Anísio Teixeira, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Cristóvam Buarque? Luis Althusser já nos advertira que a escola é um aparelho ideológico do estado, na medida em que representa seus interesses, que são os interesses da classe dominante. Isso pode ser comprovado pela distância entre a qualidade de uma escola privada e de uma escola pública no ensino médio. Já no ensino superior essa relação se inverte, pois são as públicas, principalmente as federais, que respondem por estatísticas oficiais de um ensino de qualidade. Mas as universidades representam uma parcela pequena do ensino como um todo. Então vamos olhar para o ensino fundamental e médio como um fator de mudança significativa para as novas gerações e para o futuro do país.
Vejamos a escola como espaço onde se concentram saberes mediados por professores, técnicos e alunos. Cada um traz em si, em tese, uma contribuição para a manutenção e expansão do conhecimento. Então, como fica a escola regida por um sistema econômico excludente? Se a base de uma pirâmide social que tem como eixo de desenvolvimento a economia não valorizar o papel da escola como salvação de gerações, o que poderemos esperar dos jovens que hoje freqüentam essa escola em processo de degradação?
Dentre as categorias que exercem funções sociais transformadoras, os professores continuam sendo tratados como marginais pela classe política. Quanto vale um médico depois de formado? Um jurista? Um engenheiro? Um arquiteto? Um enfermeiro? Um vereador, prefeito ou seja lá que cargo público exerça um político sem formação superior?
Lembrar sempre que todos eles acima passaram pelas mãos do professor. Então, que ódio a uma categoria justificaria salários tão miseráveis como os salários dos professores? Em qualquer edital de concurso público temos a clara e irracional discriminação aos que exercem o ofício de ensinar. Em alguns concursos a disparidade salarial entre um médico e um professor chega a mais de vinte vezes o valor de um sobre o outro. E não há por parte do poder qualquer argumento que justifique tal discriminação.
E quanto aos alunos, que futuro a escola pode lhes proporcionar, caso ainda permaneça essa desfaçatez dos políticos que alteram discursos e práticas, na maioria das vezes imorais, de imobilizar a máquina administrativa, com a desculpa de que as crises ou a falta de profissionais qualificados impedem de se gerar a tão sonhada escola de qualidade? Não me refiro aos dias de hoje, mas aos últimos trinta anos, em que participei como aluno e participo como professor nos diversos níveis de ensino.
A melhoria das condições de vida de grande parte da população que usufrui da educação como um bem público e como uma esperança de melhores dias está diretamente ligada a melhoria da escola como um todo. Sem infra-estrutura, profissionais qualificados e bem pagos, não duvido que, daqui a alguns anos, a barbárie estará aniquilando a vida inteligente na escola.
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