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Cristina Moura

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Gente é a gente

17/11/2020 às 09h37

Coluna de Cristina Moura

Ouço dizer sempre que a oração é um pedido. Partindo de tal ponto, vejo o quanto sou pidona. Peço, mas peço mesmo. Peço direto. Peço com força. Piscou o olho, estou pedindo. Fico pensando se o santo em questão, ou seja, o interlocutor, que espero estar ouvindo o meu pedido, não se cansa desse meu contato diário. Ao mesmo tempo, em velozes segundos, respondo a mim mesma que não, pois a divindade está devidamente preparada para os pobres mortais, que se lamentam, imploram, lastimam, pleiteiam.

Imagino a oração como uma conversa bem íntima. Uma conversa bem secreta: só eu e a divindade. É o momento de se desnudar de tudo: das culpas, das poses, das incertezas. É o momento de dizer o que penso sobre a verdade, sobre as gorduras e as glicoses, sobre as montanhas e os abismos. Somente quem é divino sabe. Quem: esta palavra merece mesmo uma letra maiúscula, assim como todos os outros pronomes relacionados. É o mínimo que a gramática pode fazer.

Sou pidona mesmo, diante do grandioso, magnânimo, insuperável. Diante da perfeição. Peço tanta coisa, que nem adianta listar o abecedário aqui. Aliás: eu nem posso. É segredo: texto lacrado, submerso ou morador de algum planeta desconhecido. Alguns pedidos são públicos e coincidem com tantos outros pedidos de muita gente. Gente pede, que não é brincadeira. Gente, gente, gente é muita gente. E gente pede, pede, pede e repete, todos os dias. Gente pede até o que nem deveria pedir. Pois é. Gente sou eu no rol das gentes. Gente é a gente.

Às vezes, um raio de luz na consciência sopra uma voz, questionando, se é para transformar em pedido algo que pode ser considerado irreal. Mesmo assim, peço. Não tenho o hábito de me ajoelhar, cruzar as mãos, olhar para o céu. Acredito que Deus está. Simplesmente é e está. Acho tão bom quando digo a alguém que vá com Deus e a pessoa me devolve que eu fique com Deus também. É um poder onipresente. Nenhum de nós terá essa capacidade, por mais saúde que mostre ou dinheiro que possa aglomerar.

Deus não precisa de comprovação científica, muito menos que façamos painéis comemorativos. A fé é algo tão pessoal, que extrapola os desejos da publicidade. É algo mágico também. A magia a qual me refiro é aquela causa e efeito do invisível, é aquela sensação que não precisa do estetoscópio, é aquele sentimento que não depende do dicionário, é aquela convicção que não se liga a indumentárias, é aquela campainha subjetiva que toca uma melodia suave.

Dois princípios da fé cristã, que mandam amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo, são o resumo dos meus deveres cotidianos. Ainda não tenho preparo suficiente para eles. Ainda reclamo, erro, apanho. Ainda tropeço, arranco, atraso. Mas meus pedidos existem e, enfim, são ensaios para me tornar uma pessoa melhor. Deus está vendo.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

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