General Mourão prega o golpe?
O general Hamilton Mourão falou outra vez. Semana passada em palestra para seleto público brasiliense, ele emitiu opinião pessoal sobre a conjuntura brasileira, alertando que: Ou as instituições solucionam o problema político pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos ou então teremos que impor isso (…), chegará a hora em que teremos que impor uma solução.
O general Eduardo Vilas Boas, comandante do Exército, não enquadrou o seu subordinado. Disse apenas não existir qualquer possibilidade de intervenção militar: Desde 1985 não somos responsáveis por turbulências na vida nacional e assim vai prosseguir, enfatizando que a Força defende a manutenção da democracia, a preservação da Constituição, além da proteção das instituições.
O episódio, porém, não se encerra aí.
Pronunciamentos de militares fora da caserna era rotina antes do golpe de 1964, ampliados por declarações políticas de generais, coronéis, majores, capitães e até de sargentos. Pior ainda, alguns mais afoitos tentaram interromper o processo democrático, depondo Juscelino Kubitschek, numa aventura golpista frustrada, em fevereiro de 1956, que ficou conhecida como a revolta de Jacareacanga. Nesse tempo, os quartéis se aliavam a ardilosos políticos a procura de respaldo militar para substituir votos por armas. Findaram por conseguir. O golpe veio em 1964, apoiado pelos Estados Unidos no estilo padrão da guerra fria, o mundo dividido entre o bem e o mal.
Hoje a situação real é outra.
Após 20 anos (1964-1985) de controle direto do poder, com significativos avanços no terreno de realizações materiais e outras conquistas, os militares se afastaram, ensejando mais um período de vivência democrática. O Brasil deu azar. Morreu Tancredo e assumiu Sarney, ex-chefe da Arena, que fora o braço partidário dos quarteis. Os militares deixaram também um rastro de malfeitorias. Exemplos? Sob o pretexto de acabar com subversão e a corrupção, rasgaram a Constituição, esmagaram as liberdades individuais e coletivas, extinguiram partidos políticos, cassaram mandatos populares de modo sumário, impuseram rigorosa censura à imprensa e às expressões artísticas. E mais, efetuaram prisões arbitrárias, torturaram e mataram presos políticos. Paradoxo.
À sombra da ditadura prosperam figuras como Paulo Maluf, nova versão do rouba mas faz, copiada de outro paulista, Ademar de Barros. A falta de liberdade e de eleições castrou uma geração inteira de brasileiros.
O general Mourão já falara outras vezes.
Ouvi uma de suas palestras. Quase uma hora de exposição, estruturada a partir da análise da conjuntura mundial, latino-americana e brasileira, marcada pela superficialidade. Superficial no diagnóstico da crise brasileira, com abuso de lugares comuns e mistura de causa e efeito, evidenciando estar refém de parâmetros da doutrina da segurança nacional, construídos no tempo da guerra fria. Detalhe importante. Em sua fala o general Mourão exalta o militar como profissional. E faz isso a partir dele próprio, de seus 46 anos de caserna. É fácil perceber que aí reside a mensagem final: só os militares podem consertar o Brasil. Como? Com o Regulamento Disciplinar do Exército na mão. Aliás, o RDE que ele mesmo desrespeita, como em 2015, quando foi demitido do Comando Militar do Sul, e transferido para função burocrática em Brasília, porque homenageou conhecido torturador, o coronel Brilhante Ustra.
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