Fome, fraternidade e os super-ricos
Por Alexandre Costa – Pela terceira vez ao longo de 61 anos a Campanha da Fraternidade (CF), aborda esse ano o delicado tema da insegurança alimentar, jogando na cara da sociedade brasileira a responsabilidade de termos voltado ao mapa da fome. Criada em 1962, e realizada anualmente no período quaresmal pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Campanha da Fraternidade, surgiu com o proposito de despertar os princípios da solidariedade cristã na busca de soluções para os problemas sociais que mais afligem os mais vulneráveis, especialmente aqueles que vivem fora da proteção do estado, os chamados invisíveis sociais.
Neste ano, o tema da CF coincidiu com uma triste realidade fielmente retratada na pesquisa “As múltiplas Dimensões da Pobreza na infância e na Adolescência no Brasil” da UNESCO-órgão da Organização das Nações ONU para Educação, Ciência e a Cultura publicada no mês passado, que esmiúça dados sobre moradia, renda, saneamento e trabalho infantil entre 2019 e 2022.
São números estarrecedores, que revelam a crueldade como nossa juventude é tratada, especialmente aqui na Paraíba, onde quase 80% das crianças e adolescentes vivem em situação de pobreza e a falta de saneamento afeta 52,9% desses jovens. Ou seja, mais da metade das crianças paraibanas vivem literalmente na “merd…”.
Obvio que hoje, a sexagenária Campanha da Fraternidade da Igreja Católica apesar de não conseguiu reverter o quadro da fome no Brasil teve e tem uma importante função pedagógica de denunciar e cobrar e propor soluções para combater a fome que ainda grassa no país, mas veio do último Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, onde finalmente surgiu uma proposta palpável e exequível para acabar com a fome no mundo: taxar os super-ricos.
A princípio fiquei ressabiado, mas fui pra ponta do lápis e verifiquei que, em parte, trata-se de uma proposta plausível, senão vejamos: o relatório da Oxfan, um órgão não governamental sobre desigualdade, apresentado anualmente neste fórum propõe um aumento na taxação dos super-ricos para alavancar recursos para tirar 2 bilhões de pessoas da linha de pobreza em todo o mundo. O fato preocupante neste relatório é que a primeira vez em 25 anos, provocado pela pandemia, registrou-se ao mesmo tempo, o aumento da pobreza extrema e da riqueza extrema que aprofundou o fosso social da desigualdade mundial.
A proposta ambiciosa desta ONG é acabar com a fome no mundo em 10 anos com a criação de um imposto mundial de até 5% cobrado anualmente dos super-ricos que teria um potencial de arrecadar US$ 1,7 trilhão por ano impactando apenas os impostos sobre a renda de capital e trabalho do 1% rico do planeta. Além de combater a fome e a desigualdade social global esses recursos também serão direcionados para apoiar países pobres devastados por eventos climáticos extremos. Será que isso vai funcionar? Com a palavra os super-ricos.
Alexandre José Cartaxo da Costa é engenheiro, empresário, especialista em Gestão Estratégica de Negócios pela Universidade Potiguar e membro fundador efetivo da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal).
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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