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Mariana Moreira

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Flagrantes de viagem

08/10/2021 às 21h26

Coluna de Mariana Moreira. (Imagem: reprodução/internet).

Por Mariana Moreira

A estrada vai se revelando em curvas, sinuosidades e paisagens que, na velocidade de motores e olhares, se mostram em cantos e encantos de gentes, bichos, plantas, aragens e nuvens serelepes que correm no céu, como a nos trazer o prazer infantil das brincadeiras de esconde-esconde.

Na curva que se desmancha numa longínqua reta uma estrada de terra revela uma cancela que sempre está fechada. E, entre travas e treliças, escancara caminhos por onde pessoas, animais, ventanias, redemoinhos, touceiras de capim circulam na direção de lugares, casas, experiências. Quem são? O que fazem? Não importa! São efêmeros momentos que se diluem na rapidez da estrada que segue sua instantaneidade de idas e vidas e, assim, tantas voltas.

Escondida entre moitas de mufumbos e favelas uma gasta cruz de madeira esconde lágrimas e saudades de alguém cujo nome se apaga na trava corroída pelo tempo. Marcas de parafina, restos de um terço de contas incertas levadas por ventos, preces e chuvas. A identidade apagada em lembranças que se reconfiguram na dinâmica da vida e na celeridade de eventos outros que emergem em importância fugaz e arquiva em pálidas memórias ontens e pretéritos.

No alto da serra o engenho humano planta a tecnologia de um gigantesco catavento cujas hélices se movem na imensidão azul do sertanejo céu, produzindo energia e movimentando lucros e dividendos de poucos. E as hélices giram na plasticidade do espetáculo que esconde, em suas sombras e ausências de vento, dramas e dores de pequenos agricultores, deslocados de seus lugares de nascença em nome do progresso. Pequenos que soterrarão nas marcas deixadas pelo movimentar das hélices seus pequenos roçados de milho e feijão. O baixio onde abrigava o cacimbão, os pés de manga, coco e goiaba. A casa com suas memórias de festas, bodas, celebrações, velórios. As plantas, aves e bichos afugentados pelo barulho do movimentar das hélices e pela quebra da convivência que se construiu como estratégia de viva e de viver.

E as sombras das hélices se perdem no horizonte. O rasante voo de um carcará desenha imaginárias linhas no céu límpido e azul de outubro. Às margens da estrada touceiras de mandacarus, xique-xiques, marmeleiros, juremas alimenta a certeza do lugar conhecido. A identidade de um juazeiro de tronco pendido e sombra farta e de uma oiticica que teima em crescer na margem do riacho, aterrado pela especulação imobiliária, abastece o canto de bem-te-vis, rolinhas, galos de campina.

E a estrada finda em impressões de paisagens e cenários!


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

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