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Mariana Moreira

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Falsas máscaras de indignação

11/11/2016 às 15h46

A reação a eleição do novo presidente dos Estados Unidos revela, para os ouvidos mais acurados, uma clara evidência de como a mídia se comporta e como, no jogo do esconde e revela, vai defendendo posições, formatando concepções de mundo e manipulando cabeças e mentes. Trump desenhado como um misógino, machista, destemperado, mal educado, intolerante apenas escancara ou, se quiserem, mascara, como os Estados Unidos, enquanto vanguarda de um modelo econômico que se assenta no lucro e na exploração vai se utilizando de todas as estratégias para assegurar o domínio na maior parte do planeta.

E para este formato de mundo o Trump é uma das mais legítimas alternativas. Como outrora um medíocre astro de Hollywood, Ronald Reagan, se encaixou muito bem na cadeira de presidente dos Estados Unidos e, na parceria com a Dama de Ferro inglesa, Margareth Thatcher, empreendeu uma das mais profundas atualizações do capitalismo, na sua versão neoliberal. Direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores foram desconstruídos com a velocidade dos tsunamis e dos furacões. Garantias trabalhistas foram desregulamentadas em nome de uma estabilidade econômica e de um crescimento do capital. Empregos formais somem no ritmo vertiginoso do crescimento de atividades informais e desprotegidas de garantias e de perspectivas de futuro.

Atividades essenciais gerenciadas pelo estado foram privatizadas numa clara e ostensiva atitude de desrespeito e desprezo com os direitos e garantias da vida de parcela significativas da população.

Exemplos marcantes estão bem recentes em nossas memórias e histórias. Lembremos o governo do Senhor Fernando Henrique Cardoso e a avalanche de privatizações de importantes empresas públicas, feita com o argumento de enxugar a máquina do Estado para garantir agilidade e expansão na prestação dos serviços essenciais a população. E hoje Mariana e a lama da Samarco são referências, dolorosas e traumáticas, desta expansão.

O espanto pela eleição do Trump se apresenta, para mim, apenas como jogo de cena. Ele foi forjado da mesma têmpera que produziu Michel Temer e o golpe de Estado no Brasil.

Os eleitores do Trump rezam pela mesma cartilha dos coxinhas brasileiros que reverenciaram o pato a FIESP, bateram panela e xingaram a presidenta em plena solenidade de abertura da Copa do Mundo.

São “homens de bem”, tementes a Deus, mas que não permitem a diversidade, a inclusão, a mistura de cores e raças, os odores e sabores que se misturam nas favelas, nas senzalas, nos terreiros, nas ribeiras, nos sítios e assentamentos.

Americanos e brasileiros que apoiaram o golpe de estado e elegeram Trump nascem do mesmo ventre. Do ventre rancoroso e fundamentalista que não aceita imigrantes, que não concebe negros na universidade, que não tolera mulheres na presidência.

Ora, nos poupem das falsas máscaras de indignação.

Leiam Márcia Tiburi e de “Como conversar com um fascista”.

A recomendação vale para brasileiros e norte americanos!

Mariana Moreira


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

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