Exílio, solidão e saudade
Por José Antonio – Tenho recebido muitas mensagens de cajazeirenses que sobre as asas de carcarás voaram para outras encostas e colinas, deixando pra trás as saudades e as lembranças tão belas e caras de grande parte de suas vidas, vividas nas ruas, vielas, becos, botecos, praças e esquinas de sua Cajazeiras.
Todas as mensagens externam lamentos e o choro da tão bela e distante terra querida. Lindas, emocionantes e verdadeiras canções de exílio.
Fico às vezes me perguntando se acontecem os mesmos sentimentos, os mesmos lamentos, as mesmas tristezas e as imensas saudades com os filhos de outras cidades que também se “exilaram”, a exemplo de inúmeros cajazeirenses, que fazem questão de manifestar e demonstrar que sempre está acesa em seus peitos a memória imorredoura da doce fragrância do solo natal.
Que mistérios são estes que esta cidade guarda entre seus muros que tanto encantam os seus filhos?
Porque tantos choram a ausência da terra querida?
Porque tantos rasgam as fronteiras do tempo com seus pensamentos e vem sentir a brisa suave do entardecer na parede do Açude Grande?
Porque tantos se lamentam, tristemente, por não poder vir assistir aos desfiles do dia da cidade?
Porque tantos pedem para escrevermos sobre o tempo que passou para saudar, reverenciar, resguardar e salvar a nossa memória histórica?
Todas estas noticias que chegam aos conterrâneos seria uma forma de reviver e sobreviver deste exílio in(voluntário)?
Oh, minha Pátria tão bela e perdida. Oh, minha terra querida, vá em pensamentos, sobre as asas cinzentas dos nossos gaviões de tabuleiros e diz a todos os exilados que continuem a chorar a ausência de sua terra e ainda que tenham força para suportar o sofrimento e que nunca bata em seu peito o sentimento da conformação.
O degredo é um contínuo sofrimento, é um renunciar ao ontem para poder viver a esperança da volta, que se transforma em uma grande festa e isto Cajazeiras tem vivido e vivenciado nos últimos tempos, com muito amor, nos bailes do reencontro.
Um cajazeirense, radicado no Rio de Janeiro, fez questão, que depois de sua morte, seu corpo fosse cremado e suas cinzas jogadas do alto do Cristo Redentor, aos pés da cidade que lhe serviu de berço. Esta demonstração de amor a sua cidade me faz lembrar um cantador de versos da feira de Cajazeiras, que costumava recitar a Canção do Exílio de Gonçalves Dias: “por mais terra que eu percorra, não permita Deus que eu morra sem que antes volte lá”.
Ao vasculhar as minhas anotações reli os meus delírios de exilado em terras pernambucanas, nos idos da década de 60, indagava:
Existe algo mais sentimental e belo que beijar nos olhos? Onde ficam os olhos de minha amada cidade? Nos altares de nossas igrejas? Nas alamedas dos nossos cemitérios? Nas choupanas da periferia? Nos encarcerados? Nos leitos dos nossos hospitais? Nas crianças abandonadas? Nas famílias que padecem com filhos dominados pelas drogas? Nos lupanares? Nas nossas praças?
Caro amigo exilado, ao retornar a sua terra, beije-a nos olhos, não somente nos olhos que irradiam alegria, mas nos que derramam lágrimas de dor e você vai sentir que muitas delas são amargas e precisam de seu afago.
Uma rua começa em Cajazeiras, que vai dar no meu coração e hoje compreendo mais do que antes, depois de ter escalado a encosta dos anos, de forma muito forte a necessidade de continuar sendo fiel às minhas raízes telúricas e de ter Cajazeiras cada vez mais presente em meu coração.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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